Título: Promoção como prêmio à lealdade
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Fonte: O Globo, 13/11/2010, O Mundo, p. 38

Chávez eleva à patente mais alta das Forças Armadas general que não aceitaria vitória da oposição

CARACAS

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, premiou um general que afirmou que as Forças Armadas estão casadas com o projeto socialista de governo e não aceitariam uma vitória da oposição nas eleições presidenciais de 2012. Num discurso pela TV, em cadeia nacional, Chávez defendeu fortemente Henry Rangel Silva, atual chefe do Comando Estratégico Operacional das Forças Armadas, e anunciou que sua promoção a general-emchefe deve sair ainda hoje. A declaração de Rangel Silva é vista com preocupação tanto pelo secretáriogeral da Organização de Estados Americanos como pela oposição, que enviou uma carta à OEA e ao Brasil, endereçada ao chanceler Celso Amorim, pedindo que acompanhem a situação no país.

Ao vivo, em cadeia de rádio e TV, Chávez disse que as declarações de Rangel foram manipuladas pela mídia e o felicitou por seu patriotismo: ¿ Quantos anos ainda faltam de serviço ao general Rangel Silva? Vamos promovê-lo a general-em-chefe.

Felicitações, humilde soldado! ¿ disse o presidente na noite de quinta-feira.

Antes mesmo da declaração, Henry Rangel já era uma figura polêmica. Em 2008, os EUA acusaram Rangel e outro oficial, Hugo Carvajal, de envolvimento no tráfico de drogas por ajudar a guerrilha colombiana. Ambos negaram as acusações. No ano passado, contas bancárias em seu nome e de Carvajal, em Andorra, teriam sido congeladas, segundo a imprensa local.

Opositores pedem investigação

Esta semana, ele se viu em nova controvérsia ao dar uma entrevista ao jornal ¿Últimas Noticias¿: ¿ A Força Armada Nacional (FAN) não tem lealdade pela metade, e sim completa com um povo, um projeto de vida e um comandanteem-chefe. Nós nos casamos com esse projeto de país ¿ disse Rangel, no áudio da entrevista, no site do jornal. ¿ Um hipotético governo da oposição a partir de 2012 seria vender o país, isso não vão aceitar a FAN, e menos ainda o povo, e uma tentativa de desmantelar o setor militar, haveria uma reação tanto dos militares como do povo.

A declaração deflagrou uma forte reação da oposição. O deputado eleito William Ojeda cobrou do ministro da Defesa, general-em-chefe Carlos Mata Figueroa, uma posição sobre o assunto. Ojeda pediu ainda uma investigação administrativa sobre o general. O assunto preocupou José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA, que classificou as declarações de Rangel de inaceitáveis.

¿Em geral não opino sobre o que dizem altos funcionários, mas, nesse caso, abro uma exceção porque é algo muito grave... que um comandante do Exército ameace com insubordinação a priori é inaceitável¿, disse Insulza ao jornal ¿Miami Herald¿.

A Chancelaria venezuelana respondeu, afirmando que a declaração de Rangel estava de acordo com a Constituição venezuelana. E Chávez voltou ao assunto, defendendo seu general e acusando Insulza de intromissão.

¿ Creio que ninguém mais quer ser secretário da OEA. É algo desvalorizado.

É um cargo inútil. Reelegemos o doutor Insulza porque não havia mais ninguém ¿ disparou Chávez.

¿ Vou te dizer como já disse há dois anos: não seja insosso, Insulza.

Insosso, irresponsável, indigno.

O presidente venezuelano afirmou ainda que a Venezuela não receberá o embaixador americano, Larry Palmer, por não ser um país ¿sem vergonha¿.

Segundo ele, a decisão foi tomada devido a declarações desrespeitosas que o diplomata teria feito sobre as Forças Armadas venezuelanas.

Chávez criticou também a oposição, a quem recomendou recolher novamente assinaturas para convocar um referendo revogatório sobre o seu mandato: ¿ Animem-se! Tirem Chávez, tiremme! Não se atrevem...

Para Soledad Morillo Belloso, articulista do jornal ¿El Universal¿, a promoção de Rangel se destina a desviar atenção.

¿ A promoção é um abuso que viola as normas que regem a matéria.

A sociedade venezuelana vê essas coisas como normais, num presidente que não respeita norma alguma.

O presidente faz essas coisas para armar escândalos que desviem a atenção dos problemas gravíssimos que a Venezuela sofre ¿ disse Soledad ao GLOBO.