Título: Haiti assegura eleições gerais apesar de epidemia e milhares de desabriga
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 13/11/2010, O Mundo, p. 39

Minustah se mobiliza, mas não evita clima de incerteza e insegurança na capital

SÃO PAULO e PORTO PRÍNCIPE. A duas semanas das eleições presidenciais, o Haiti vive em clima de incerteza e insegurança, com uma epidemia de cólera que já atinge mais da metade do território do país, e a presença de centenas de milhares de desabrigados do terremoto de janeiro, boa parte deles sem documentos ¿ o que pode resultar numa grande taxa de abstenção.

Diante desse cenário desolador, alguns candidatos e membros da sociedade civil já elevaram a voz para pedir a postergação das eleições.

Mas a ideia foi rejeitada ontem tanto pelo governo do Haiti quanto pela Comissão Eleitoral Provisória do país.

Toda a força militar internacional da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), o que significa 8.900 soldados (dos quais 2.200 brasileiros), estará mobilizada nas operações de segurança e logística para garantir a normalidade do processo, disse o Oficial de Informação Pública das Forças Militares da Minustah, major Adilson Akira Torigoe.

¿ Perto de 80% das forças militares vão atuar na segurança aos centros eleitorais, enquanto 20% cuidarão da logística da votação ¿ explicou o major Akira. ¿ Vamos garantir a entrega das cédulas e lista com caminhões, barcos e até helicópteros nas regiões mais isoladas.

Segundo a Minustah, como o furacão Tomás ¿ que passou pela região há uma semana, matando 21 haitianos ¿ atingiu apenas a parte Sudoeste do país, os prejuízos foram menores que o esperado. Ainda assim, foi criada uma Força-Tarefa ¿ composta das companhias de engenharia de Brasil, Japão, Chile, Equador e Coreia do Sul ¿ que já começou a trabalhar na recomposição de estradas e na retirada de entulhos das encostas, de modo que no dia 28, todas as estradas estejam desimpedidas.

Eleições presidenciais devem ter segundo turno Nesse dia, os haitianos devem ir às urnas eleger seu novo presidente, 11 dos 30 membros do Senado e 99 deputados.

Dos 19 candidatos à Presidência, dois saíram na frente na corrida, segundo pesquisas. Uma das mais recentes revela um empate técnico entre Mirlande Manigat, ex-primeira dama e durante anos, líder opositora, com 25% das intenções de votos, e Jude Célestin, apontado pelo atual presidente René Préval, com 21%. Analistas acreditam que a decisão só deve ocorrer no segundo turno, marcado para o mês de janeiro.

Nas ruas da capital, o clima é de incerteza, segundo a mídia local, e a opinião das pessoas diverge quanto à realização do pleito. Parte dos haitianos é contrária às eleições nesse momento, por acreditar que as condições precárias da maioria da população, somadas ao cólera e às recentes inundações causadas pelo furacão Tomás, deveriam ser a prioridade do governo.

Há os que temem que a escolha do novo presidente termine em violência, como ocorreu em 11 das 13 eleições realizadas no país desde 1987.

A tensão é ainda maior devido à epidemia de cólera, que deve ainda contaminar mais de 200 mil pessoas do país de quase 10 milhões de habitantes, segundo estimativas divulgadas ontem pela ONU. Até agora, 796 pessoas morreram e mais de 11 mil foram hospitalizadas por conta da doença ¿ e a OMS acredita que a epidemia ainda não atingiu seu ápice.

Com agências internacionais