Título: Com tato para apagar incêndios
Autor: Camarotti, Gerson ; Duarte, Patricia
Fonte: O Globo, 24/11/2010, O Pais, p. 3

BRASÍLIA e RIO. O futuro presidente do Banco Central é uma pessoa reservada e de poucos sorrisos. Mas se engana quem pensa que Alexandre Tombini - que fará 47 anos dia 9 e é funcionário de carreira da autoridade monetária do país, com alto conhecimento técnico - não tem traquejo político. Há anos vem sendo um dos principais interlocutores do BC com o Ministério da Fazenda, quando há um assunto mais delicado em pauta.

E controvérsias não faltaram nos últimos tempos, já que o atual presidente do BC, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nunca esconderam que havia mais do que uma disputa profissional em torno da condução da política econômica. A briga entre os dois entrou, há tempos, no campo pessoal. Segundo interlocutores, Tombini tem tato para apagar incêndios.

Essa característica conciliadora do futuro presidente do BC é pouco conhecida no mercado, que ainda quer ver a capacidade de Tombini para aguentar pressões, sobretudo para reduzir mais rapidamente a taxa básica de juros. Hoje, a Selic está em 10,75% ao ano, a maior do mundo. É uma taxa de juro real (descontada a inflação) de cerca de 5,5%. A presidente eleita, Dilma Rousseff, pretende chegar ao fim de seu governo com essa taxa em torno de 2%.

Tombini, segundo pessoas próximas a ele, é bastante tranquilo, gosta de ouvir mais do que falar e não é centralizador. Há consenso sobre sua capacidade técnica. Ele ajudou a criar o Departamento de Pesquisas do BC e foi um dos formuladores do regime de meta de inflação adotado desde 1999 e considerado um dos principais pilares da economia brasileira, como ressalta a própria Dilma. Com Ph.D em economia na Universidade de Illinois (EUA), trabalhou para o Fundo Monetário Internacional (FMI) de 2001 a 2005.

Tombini vem sendo preparado para assumir a presidência do BC há pelo menos um ano. No início de 2010, quando Meirelles tentou deixar o cargo para concorrer nas eleições, Tombini foi cotado para substituí-lo. Ele tem um perfil mais desenvolvimentista do que Meirelles; ao mesmo tempo, é equilibrado, e ninguém aposta que tomará decisões radicais, sobretudo de política monetária.

O mercado viu a indicação como neutra. Economistas e analistas ouvidos pelo GLOBO afirmaram que ele tem perfil semelhante ao de Meirelles e capacidade técnica para a função. Mas frisaram que a indicação não reduz as preocupações sobre a autonomia que o BC terá no governo para conter o acelerado crescimento da inflação.

COLABOROU Bruno Villas Bôas