Título: A união do crime contra as UPPs
Autor: Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 24/11/2010, O Pais, p. 17

Grupos rivais de traficantes se aliam para ataques; Beltrame promete aumentar repressão

Pela primeira vez, depois de 16 anos, as duas maiores facções criminosas do Rio se uniram com o objetivo de desestabilizar o principal projeto de segurança pública do estado: o de implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A informação foi dada ontem pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Num discurso inflamado, ele anunciou que vai endurecer a repressão aos bandidos, por planejarem a onda de ataques no Rio:

¿ O serviço de análise da Subsecretaria de Inteligência detectou que está havendo esse tipo de união de duas facções. Isso não quer dizer que o crime seja organizado, pois facção criminosa não é organizada.

Beltrame atribuiu a onda de ataques ao incômodo que as UPPs provocaram ao tráfico:

¿ Quem perde reclama e aposta na desestabilização. É isso que os bandidos tentam fazer com os ataques. Nós dobramos a aposta. Se as ações continuarem, vamos usar as forças (PM e Polícia Civil) com efetivo dobrado. Em qualquer lugar do mundo, quando há mudanças de estratégia no combate ao crime, esse tipo de coisa acontece. O que eu digo é que quem atravessar o caminho das UPPs será atropelado.

Cem bandidos do Alemão estariam na Rocinha

A Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança já investiga a denúncia de que bandidos da Rocinha e do Complexo do Alemão, na Penha, de facções rivais, uniram forças. As duas comunidades são as mais importantes na geografia do crime no Rio. Os investigadores analisam a informação de que cem homens do Alemão estão na Rocinha e planejam criar dificuldades no caso de uma ação do Bope, para a implantação de uma UPP. Na favela, estariam escondidos centenas de pneus para serem incendiados durante uma incursão da tropa de elite, a fim de atrapalhar a visibilidade dos PMs que desembarcam de helicóptero, dando início à ocupação. Um morador da Rocinha contou que, nos últimos dois meses, tem crescido o número de bandidos desconhecidos circulando na favela armados de fuzis e metralhadoras.

Sobre a insegurança que tomou conta dos moradores do Rio, Beltrame disse que, enquanto o programa de segurança não estiver totalmente em prática, a população terá que conviver com as ações terroristas:

¿ Sei que a população tem seus motivos de preocupação, mas temos que executar um plano concreto de segurança pública. Enquanto não chegarmos ao Rio que se pretende, vamos continuar a ver essas ações de bandidos. A transformação que se quer não vai acontecer de uma hora para a outra.

O apoio da Força Nacional de Segurança ou das Forças Armadas foi descartado por ele:

¿ O governo federal não enviou ajuda. O que a Polícia Rodoviária Federal vai fazer é a obrigação dela: cuidar das rodovias federais.