Título: Operação policial vasculha 22 comunidades
Autor: Costa, Ana Cláudia ; Brunet, Daniel
Fonte: O Globo, 24/11/2010, Rio, p. 18

Incursões, que mobilizaram 450 policiais militares e civis, terminaram com oito suspeitos presos e dois mortos

Em resposta aos recentes ataques de traficantes ¿ foram dez, com carros incendiados, motoristas assaltados e cabines da PM metralhadas ¿, as polícias Civil e Militar deixaram os quartéis e delegacias ontem, na Operação Fecha Quartel, para fazer incursões em pelo menos 22 favelas da Região Metropolitana. Foram 300 PMs e 150 policiais civis, que tiveram apoio de veículos blindados e helicópteros. Foram presos oito suspeitos e dois foram mortos, além de terem sido apreendidos quatro armas e 50 quilos de maconha. Os policiais também encontraram combustível que seria usado em novos ataques. As incursões se concentraram em favelas controladas pela maior facção do Rio, que estaria por trás dos atentados. Por causa das incursões, dez escolas não funcionaram e 7.320 alunos ficaram sem aulas.

As ações começaram de manhã. Simultaneamente, policiais civis e militares ocuparam as favelas de Manguinhos, Mandela, Jacarezinho, Nova Holanda, Arará, Cajueiro, Juramento, Tuiuti, Parque União, Vila Cruzeiro, Encontro, Barreira do Vasco, Cotia, Merendiba, Chapadão, Vila Joaniza, Barbante, Varginha, Fallet e Fogueteiro, na Zona Norte; e Vila Kennedy e Vila Vintém, na Zona Oeste.

A polícia também fez blitzes em ruas da Zona Sul. O objetivo era tentar prender bandidos que estivessem com combustíveis e armas.

Helicóptero com câmera foi usado em operação

Nas favelas da Mandela e de Manguinhos, grande parte do comércio não abriu as portas. As ruas estavam desertas. Houve um pequeno confronto na entrada dos policiais, que tiveram que passar por barreiras de concreto construídas por traficantes.

A operação contou com um importante aliado. Um helicóptero da Polícia Civil, com uma câmera acoplada, enviava, em tempo real, imagens das favelas para um furgão da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), parado próximo à 21ª DP (Bonsucesso). A aeronave chegou ao Rio há cerca de dois meses. Sua câmera, mesmo a uma altura de três mil pés (914 metros), pode registrar, com definição, o rosto de uma pessoa ou a arma que ela usa. As imagens foram gravadas para investigações posteriores.

Na Vila Cruzeiro, na Penha, um intenso confronto deixou moradores em pânico. Policiais foram recebidos a tiros e pediram reforço. Devido ao tiroteio, o Iaserj cancelou as consultas. Houve pânico. Por radiotransmissor, traficantes desafiavam a polícia e repudiavam a implantação de UPPs. Na ação, um bandido morreu e um dos ¿gerentes¿ do tráfico na favela, Marcos Henrique da Silva Freitas, de 31 anos, foi preso. Com ele, policiais apreenderam um fuzil calibre 762. Com o morto, havia um fuzil AK-47.

Em Niterói, um suspeito morreu e outros dois foram baleados durante um tiroteio com policiais militares na Favela Nova Brasília, no bairro da Engenhoca, no fim da tarde de ontem. Não identificados, os três baleados foram levados para o Hospital estadual Azevedo Lima.

Segundo o coordenador de Comunicação Social da PM, coronel Lima Castro, todos os batalhões estão envolvidos na operação, porque as ações do tráfico são descentralizadas:

¿ Essa facção criminosa não se restringe à capital. Por isso, os batalhões da Região Metropolitana receberam a determinação de colocar policiais nas ruas e fazer operações nos pontos de venda de droga.

Ações foram comandadas de dentro de quartel na Maré

Toda a operação de ontem foi comandada do interior do 22º BPM (Maré), que se transformou num gabinete de crise. De lá, chefes do setor de inteligência da Secretaria de Segurança e auxiliares do primeiro escalão das polícias Civil e Militar supervisionaram e direcionaram a ação dos policiais nas ruas. De acordo com o diretor do Departamento de Polícia Especializada, delegado Ronaldo Oliveira, o controle da operação foi centralizado no batalhão da Maré por ser um local estratégico:

¿ O importante é que estamos fazendo um trabalho interligado, com informações de inteligência para identificar bandidos, conseguir mandados de prisão e prender quem está fazendo ataques contra a população do Rio.