Título: Irlanda precisa de 85 bilhoes, dizem fontes
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Fonte: O Globo, 24/11/2010, Economia, p. 30

Cresce o número de economistas que defendem o calote a credores por países em crise de dívida na zona do euro

Da Bloomberg News e do New York Times*

LONDRES e DUBLIN. Autoridades da União Europeia (UE) estimam que o pacote financeiro de resgate da Irlanda deve chegar a 85 bilhões, disseram ontem duas fontes que acompanham as conversações. Do total, 35 bilhões seriam destinados aos bancos e o restante reforçaria o caixa do governo irlandês. Mas cresce o número de especialistas que defendem que os países da zona do euro mais afetados pela crise da dívida simplesmente deem o calote. Para esses economistas, em vez de ferir ainda mais suas combalidas economias com políticas de austeridade fiscal, que aprofundariam o quadro recessivo, eles deveriam começar imediatamente as conversações com os bancos credores, forçando-os a aceitar o prejuízo.

O risco, admitem esses economistas, seria disseminar o pânico entre os investidores pelos mercados financeiros, num momento em que a economia global ainda não se recuperou da crise. Porém, uma reestruturação de débito de forma organizada, capaz de reduzir o volume de dívida dos países, especialmente em relação aos pacotes de ajuda financeira, poderia levar mais rapidamente a um caminho de recuperação e evitar o trauma de um calote forçado mais à frente.

¿ As equipes econômicas enfrentam o mesmo dilema em qualquer crise com respeito a dar calote e a tomar decisões que são sempre difíceis ¿ disse Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro dos EUA, que enfrentou esse dilema em 1994, quando ajudou a montar o pacote de US$47 bilhões para o governo mexicano, que estava à beira do calote. ¿ Manter os credores de títulos ilesos na crise contribui para abalar o moral e eleva os risco geral. Mas impor o calote pode tornar o acesso aos mercados mais caro ou impossível por um longo período, e pode criar sério efeito de contágio.

Um sinal de que o pêndulo pode estar se afastando dos credores ocorreu este mês, quando a chanceler alemã, Angela Merkel, apoiou o presidente francês, Nicolas Sarkozy, quando este defendeu junto a outros líderes europeus que os credores também precisam aceitar algum custo nos futuros pacotes de resgate.

A posição da chanceler abalou os mercados e Merkel acabou recuando. Mas seu argumento chamou a atenção para o debate sobre como lidar com a crise da dívida na Europa, num momento em que Irlanda se prepara para receber ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da UE, e Portugal e Espanha sinalizam que precisarão de ajuda.

Cresce pressão contra premier irlandês

Defensores do calote lembram dos casos de Argentina e Rússia, em 2002 e 1998, respectivamente, afirmando que os dois países sobreviveram à reestruturação de suas dívidas. Mas o assunto calote ainda é tabu em lugares como Atenas e Dublin, onde os governos temem ser punidos com a suspensão de crédito.

Ontem, o ministro de Transportes da Irlanda, Noel Dempsey, disse que o pacote bilionário para tirar o país da crise só será liberado se o governo adotar um plano de austeridade de quatro anos, independentemente do clamor da população por uma eleição relâmpago. Os partidos de oposição aumentaram a pressão sobre o premier irlandês, Brian Cowen, segundo revelou o jornal ¿The Guardian¿. O Sinn Fein apresentou uma moção de falta de confiança contra ele. Já Dempsey teve suas lojas pichadas por vândalos.

Ontem, o prêmio pago pelos títulos da dívida irlandesa subiu de 7,971% para 8,43%.

(*) Com ¿Independent¿ e agências internacionais