Título: Coreias combatem na fronteira
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Fonte: O Globo, 24/11/2010, O Mundo, p. 35

Ataque do Norte à ilha no Mar Amarelo deixa 2 mortos, preocupa o mundo e leva o Sul a rev

SEUL

A Coreia do Sul ameaçou lançar uma dura represália contra a Coreia do Norte caso sofra uma nova agressão. Num dos piores enfrentamentos desde o fim da Guerra da Coreia, um confronto entre as duas Marinhas deixou dois sul-coreanos mortos e mais 18 pessoas feridas, entre militares e civis, na pequena ilha de Yeonpyeong, no Mar Amarelo, próximo à fronteira entre os vizinhos. O governo norte-coreano afirma que o Sul disparou primeiro, quando realizava manobras militares. O ataque pegou o mundo de surpresa, gerando temores de renovada tensão na Ásia e condenações de vários países. Estados Unidos, China e ONU vieram a público pedir moderação, com o governo americano defendendo a busca de uma resposta ¿calculada e unificada¿ para o caso.

Os EUA, que mantêm 28 mil militares na Coreia do Sul, condenaram o ataque. O chefe da força militar na região, general Walter Sharp, advertiu que o episódio ¿ameaça a paz e a estabilidade¿. A Casa Branca disse que consultará os sul-coreanos e, à rede ABC, o presidente Barack Obama defendeu a intervenção da China.

¿ A Coreia do Norte é uma ameaça constante com a qual temos que lidar. Vamos trabalhar junto com o presidente Lee numa resposta apropriada, e pedimos à China que avise à Coreia do Norte que há leis internacionais que têm que ser respeitadas ¿ afirmou Obama, que fora acordado ainda de madrugada para discutir a crise.

Em Seul, o presidente Lee Myung-bak convocou uma reunião de emergência e ressaltou que ¿ataques indiscriminados não serão tolerados¿. As Forças Armadas entraram no maior nível de alerta desde o fim da guerra, e a ordem do presidente é atacara bases de mísseis norte-coreanas caso haja uma nova provocação. Lee adiou, ainda, por tempo indeterminado, as conversas com o país vizinho, marcadas para amanhã. Para o Ministério da Defesa, o bombardeio supõe uma clara violação do armistício entre os dois países.

¿ A provocação desta vez será vista como uma invasão do território sul-coreano. O ataque indiscriminado a civis é grave ¿ declarou Lee. ¿ Uma dura retaliação ocorrerá para garantir que não haja mais provocações.

Em sua versão, Pyongyang afirmou ter reagido¿à provocação de um grupo de marionetes¿. O comando militar do país ameaçou ¿atacar sem piedade¿ se o Sul avançar na fronteira marítima ¿mesmo por um milímetro¿.

¿O inimigo sul-coreano, apesar de nossas repetidas advertências, cometeu uma provocação militar ao disparar contra nosso território marítimo¿, disse a agência estatal KCNA.

O incidente começou quando a Coreia do Sul realizava exercícios militares perto da fronteira. A Coreia do Norte advertiu para parar as manobras. Quando os sul-coreanos se recusaram e começaram a disparar na água, embora longe da costa norte-coreana, as forças de Pyongyang retaliaram, atirando contra a ilha de Yeonpyeong, a 11 quilômetros da costa do Norte, onde há uma base do Sul ¿ e civis.

¿ Achei que fosse morrer ¿ contou Lee Chun-ok, que assistia à TV quando uma parede de sua casa caiu.

China pede calma e defende negociações

Segundo testemunhas, pelo menos 50 morteiros atingiram a ilha. A rede de TV YTN, no entanto, afirmou que eles seriam 200. O Sul reagiu, disparando de volta, num confronto que durou uma hora. Cerca de 80 morteiros foram lançados pelos sul-coreanos. Dos 18 feridos, três são civis. A população foi levada para a cidade portuária de Incheon, a oeste de Seul.

O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, advertiu sobre ¿o perigo colossal¿ trazido pelo incidente. No Japão, o premier Naoto Kan ordenou a seus ministros que fiquem preparados para qualquer eventualidade, enquanto a China pediu calma às duas Coreias, defendendo a necessidade de retomar as negociações. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou o ataque, destacando ser ¿um dos mais graves incidentes desde o fim da Guerra da Coreia¿. Ban manifestou sua preocupação ao Conselho de Segurança ¿ o que contrariou a Coreia do Norte.

¿ Isso não deve ser discutido no Conselho de Segurança, mas entre o Norte e o Sul ¿ disse Pak Tok-hun, vice-embaixador na ONU.

O confronto se segue à revelação de que o Norte tem uma nova usina de enriquecimento de urânio e após o norte-coreano Kim Jong-il promover seu filho mais novo a herdeiro.