Título: Americanos apoiam escaner em aeroportos
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 24/11/2010, O Mundo, p. 36

Pesquisa indica que mais de dois terços defendem procedimento, mas metade é contra revistas em partes íntimas

NOVA YORK. Apesar dos protestos da minoria, cerca de dois terços dos americanos apoiam o uso de escâneres que revelam imagens de corpo inteiro nos aeroportos dos Estados Unidos, segundo pesquisa publicada ontem pela rede de TV ABC e o jornal ¿Washington Post¿. Em relação às revistas feitas por agentes de segurança tocando seios e a área genital, no entanto, a opinião pública está dividida: 50% dizem que elas vão longe demais, enquanto 48% acreditam que esse nível de invasão é necessário para garantir a prevenção de atentados terroristas. Protestos contra essas revistas estão previstos em 40 aeroportos hoje, véspera do feriado do Dia de Ação de Graças, quando a aviação tem o maior movimento do ano nos EUA.

Os escâneres estão sendo usados nos 70 maiores dos 450 aeroportos americanos, na busca por explosivos líquidos ou em pó, materiais que passam despercebidos pelo detector de metais. O apoio de 64% dos americanos a esse procedimento apresenta uma queda em relação à pesquisa anterior, da CNN, que apontava 81% dos americanos em defesa do uso do escâner antes de a campanha negativa ganhar a internet.

Os processos previstos para hoje podem causar atrasos no embarque nos principais aeroportos. Qualquer pessoa que se recuse a passar pelo escâner, como defendem os organizadores do protesto, tem que passar pela revista, que demora de 1 a 2 minutos, em comparação com apenas 10 segundos para a produção de imagens.

É crescente o número de americanos que defendem outras ações de segurança para detectar suspeitos de intenções terroristas, como o profiling, uma técnica baseada no perfil étnico ou no histórico de viagem dos passageiros. Entre os entrevistados na pesquisa ABC/¿Washington Post¿, 70% são a favor desse tipo de ¿perfilamento¿: a maioria acha que a nacionalidade deve ser levada em consideração, e metade diz que a aparência pesa. Origem étnica, religião e sexo também deveriam compor o perfil do viajante, dizem os entrevistados.

Terminal em Boston evacuado por pacotes da Nigéria

As autoridades de segurança alegam que esse tipo de seleção pode violar direitos civis, estimular o racismo e, além do mais, seria ineficiente para uma população com a diversidade étnica da sociedade americana. Os defensores do profiling se inspiram no modelo adotado em Israel, onde agentes do Shin Bet fazem a triagem no aeroporto internacional Ben-Gurion, em Tel Aviv. Esse é o modelo defendido, por exemplo, pelo grupo WeWontFly, um dos organizadores dos protestos de hoje.

Os deputados republicanos Jon Mica e Ron Paul, este último líder do Tea Party, estão na linha de frente da oposição à atuação do TSA. Mica defende a privatização da segurança nos aeroportos, mas já foi acusado de conflito de interesses, por ter recebido doações de campanha de companhias privadas de segurança que atuam em aeroportos da Flórida, seu estado natal. Paul, que propôs no Congresso uma lei de dignidade dos viajantes, é um expoente da linha de pensamento que se define como libertária e deseja reduzir ao mínimo a presença do governo na vida dos cidadãos.

Ontem à tarde, um terminal de carga da Delta do Aeroporto Logan, em Boston, foi evacuado devido à descoberta de dois pacotes suspeitos, enviados da Nigéria. A área fica a cerca de 1,5 km do terminal de passageiros, e o movimento de embarque não foi afetado.