Título: Banco Central vai ouvir ex-diretores do PanAmericano
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 16/11/2010, Economia, p. 19

Instituição está analisando medidas para conter crescimento desordenado nas operações de cessão de crédito

BRASÍLIA. Dentro do processo interno de investigação das fraudes do banco PanAmericano, o Banco Central (BC) vai pedir explicações até o fim desta semana aos ex-gestores da instituição. O objetivo é ouvi-los formalmente sobre as operações de venda das carteiras de crédito, que levaram a um rombo estimado de R$2,5 bilhões.

Os responsáveis pelas irregularidades terão um prazo de até 30 dias para apresentar por escrito suas explicações, mas não devem escapar de um processo administrativo. O procedimento é considerado praxe em investigações conduzidas pela autoridade monetária.

A essa medida se somarão outras, com o objetivo de apertar ainda mais o cerco contra futuras fraudes no mercado de carteiras de crédito. De acordo com uma fonte do setor, a instituição está analisando várias medidas para conter o crescimento desordenado nas operações de cessão de crédito, verificado desde 2008. Quando eclodiu a crise financeira internacional e o crédito no mercado escasseou, o governo incentivou a venda de carteiras de créditos de bancos pequenos e médios para instituições de maior porte.

De acordo com essa fonte, uma das medidas em pauta é a criação de um organismo específico de controle das carteiras de crédito, que registraria e liquidaria essas operações, o que coibiria fraudes como as do PanAmericano.

A decisão de controlar a prática de cessão de carteira de crédito surgiu paralelamente à descoberta dos problemas no banco do empresário Silvio Santos. Este ano, o BC elegeu esse segmento como alvo prioritário de fiscalização, alertado pelo aumento dessas operações.

Com essa intensificação no controle, o BC descobriu que o PanAmericano vendeu carteiras de crédito para outras instituições financeiras, mas continuou contabilizando esses recursos como parte do seu patrimônio. A instituição vendeu as mesmas carteiras para clientes diferentes, o que caracteriza duplicidade, e ainda pagava Imposto de Renda sobre os "ganhos" obtidos com essas carteiras.

Para evitar a quebra, foi feito um empréstimo de R$2,5 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), entidade privada, sem aporte de recursos públicos. As investigações envolvem oito ex-diretores, alguns conselheiros e administradores.