Título: Uma sessão com clima de CPI
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 17/11/2010, O País, p. 3

Senadores da oposição fazem duras críticas a Haddad por falhas no Enem

BRASÍLIA. Numa audiência tensa, com clima de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), o ministro da Educação, Fernando Haddad, enfrentou pesadas críticas da oposição. Nas três horas de sabatina, no Senado, nem mesmo líderes petistas impediram os ataques contra o ministro. Os governistas preferiram ouvir calados as críticas da oposição à gestão de Haddad.

Os ataques mais pesados à conduta do MEC no episódio das falhas no Enem partiram dos senadores tucanos Álvaro Dias (PR) e Marisa Serrano (MS). Os dois afirmaram que o exame teve falhas injustificáveis. Dias chegou a perguntar se o MEC planeja indenizar os estudantes.

No momento mais tenso, Dias e Haddad entraram em choque. O senador perguntou se não havia sido incorreto nomear para a Presidência do Inep o professor Joaquim José Soares Neto, que, antes de assumir o cargo, presidia o Cespe, órgão da Universidade de Brasília (UnB) contratado para realizar o Enem.

- Em linguagem bem popular, seria colocar o cabrito cuidando da horta - disse Dias.

- Vou começar a lhe responder pelo que me parece muito importante neste momento, que é a honra dos servidores - respondeu Haddad.

- Não faço acusações, faço perguntas - disse Dias.

- O senhor é um homem muito inteligente e sabe que a pergunta revela a intenção.

Segundo Haddad, não há conflito de interesses porque o Cespe é órgão da UnB e Joaquim Neto, que é professor titular da universidade, recebe salário da instituição de ensino. O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), esperou sua vez de falar para sair em defesa do Enem e da possibilidade de que o exame seja refeito apenas por 0,1% dos participantes, como quer o MEC. Ele ficou em silêncio enquanto Haddad e o presidente do Inep eram alvo da oposição.

Mercadante expressou sua solidariedade tanto a Joaquim Neto quanto aos estudantes prejudicados pelos erros no Enem. Ele elogiou a gestão de Haddad à frente do MEC, dando preferência a verbos no pretérito. Ao falar da importância de que o Enem seja consolidado nos próximos anos, deu sugestões do que deve ser feito - inclusive compartilhando uma proposta da oposição que não é acolhida por Haddad: a regionalização do Enem.

- Sugiro que a gente pense no futuro, talvez não só fazer dois exames, mas eventualmente repensar uma fragmentação maior para eliminar o gigantismo e esse ambiente que nós criamos de insegurança.

Haddad discordou:

- A saída neste momento adequada e já planejada é que se realizem mais edições do Enem por ano - disse o ministro, afirmando que a regionalização exigiria um banco de questões com 50 mil itens, que levaria anos para ser feito.

- A sua gestão vai marcar a história da educação no Brasil - disse o líder do PT.

Haddad encerrou pedindo aos senadores que preservem quem prestou serviços ao país:

- Que tenhamos todos, sobretudo neste momento de transição, sabedoria de preservar aqueles que prestaram serviços para o país, sobretudo as instituições, estou falando tanto dos indivíduos quanto das instituições, e correr para a frente para avançar nesse processo de democratização.