Título: No centro da disputa, controle de R$ 291 bi
Autor: Alvarez , Regina
Fonte: O Globo, 28/11/2010, O País, p. 12

BRASÍLIA. Definida a equipe econômica e o núcleo de poder instalado no Palácio do Planalto, a corrida da ampla coligação partidária que elegeu Dilma Rousseff se concentra na tentativa de ocupar cargos nos ministérios setoriais e nas estatais, com seus orçamentos bilionários. Na Esplanada, a área mais cobiçada é a de infraestrutura, que ganhou musculatura com as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O programa dispõe de R$43,5 bilhões para 2011. Os orçamentos dos ministérios setoriais e das estatais, somados, chegam a R$291 bilhões. O controle desses recursos é que está em jogo neste momento de intensa disputa entre o PT de Dilma e os demais partidos da base governista.

O PMDB, por exemplo, quer ficar com a melhor fatia entre os ministérios de grandes obras. Já tem praticamente assegurado o comando do Ministério de Minas e Energia, com o retorno do senador eleito Edson Lobão (MA) à pasta. O MME tem um orçamento modesto comparado com outros dessa área, de R$850 milhões, mas estão debaixo do seu guarda-chuva as principais estatais: Petrobras e Eletrobras. Essa é uma área valorizada também porque é vista como "a menina dos olhos" da presidente eleita, Dilma Rousseff, que comandou a pasta no governo Lula.

Com o vice-presidente eleito, Michel Temer, e uma das maiores bancadas no Congresso, o PMDB quer ampliar o espaço que ocupa hoje no governo, mas a disputa com os demais partidos da base aliada está acirrada. Hoje, o partido comanda cinco pastas: além do MME, os ministérios da Integração Nacional, Agricultura, Comunicações e Saúde. Deve perder os de Saúde e Comunicações. Em troca, não abre mão de um ministério na área de infraestrutura.

PMDB de olho nos Transportes

O Ministério dos Transportes, que tem orçamento de R$18,2 bilhões em 2011, está ocupado pelo PR, que quer manter o comando da pasta. Mas também é objeto do desejo do PMDB e do PSB.

Temer encampou como escolha pessoal a indicação do ex-governador Moreira Franco para o comando do Ministério das Cidades, mas a bancada do PMDB não quer brigar com o PP, que ocupa a pasta no momento com o ministro Marcio Fortes. Com orçamento de R$18,5 bilhões, turbinado pelo programa Minha Casa Minha Vida, Cidades é um dos ministérios mais valorizados. E mais cobiçado.

O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), disse que o partido não vai brigar pelo espaço de outros aliados. Com esse espírito, a bancada de deputados indicou o nome de Marcelo Castro para o Ministério da Integração Nacional e propôs manter Wagner Rossi na Agricultura, mas frisou que são apenas sugestões a Dilma. A bancada do Senado quer dois ministérios: já indicou Edison Lobão para voltar ao MME e quer uma outra pasta para um senador.

- A bancada da Câmara já fez chegar suas indicações ao presidente Temer. De forma respeitosa, ele vai encaminhar as sugestões à presidente Dilma. São dois nomes da bancada, de ministérios já ocupados pelo PMDB. Independentemente do critério que a presidente adotar, tomamos a decisão ética de respeitar todos os espaços dos aliados - disse Henrique Alves.

O presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), reitera que o partido espera continuar no comando das Cidades. O problema é que o PP não deu apoio formal a Dilma, apesar do empenho de Dornelles.

- O partido tem uma vocação municipalista e o ministério trata diretamente com os municípios. As disputas são normais (entre os aliados). Do lado do PP, está sendo conduzida de forma educada e fidalga, sem qualquer tipo de agressão aos demais postulantes - disse Dornelles.

O Ministério da Integração Nacional é cobiçado pelo PMDB e PSB porque tem um orçamento de R$3,3 bilhões e grande influência no Nordeste, por conta do projeto de Transposição do Rio São Francisco. O nome defendido por Eduardo Campos para o cargo de ministro é o do secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e Presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape, Fernando Bezerra Coelho.

Já o Ministério das Comunicações está hoje com o PMDB, que quer mantê-lo, indicando um nome do Senado para ministro. Mas, no momento, a decisão de Dilma é de pôr lá o ministro Paulo Bernardo, do PT. Nesse caso, a bancada do PMDB no Senado já avisou que, como compensação, quer a nova pasta que trataria de portos e aeroportos.

No PTB, o senador Gim Argello (DF) disse que o partido tem uma bancada de seis senadores que apoiam o governo e que, por isso, quer reconquistar o espaço perdido com a saída de José Mucio Monteiro do Ministério de Relações Institucionais.

- Não queremos mais do que ninguém, mas também não admitimos menos do que ninguém - disse Argello.

O PT, partido da presidente eleita, desfruta situação confortável: controla os postos chave no Palácio do Planalto e na área econômica, deve ficar com o Ministério da Justiça, com os ministérios da área social e o comando das principais estatais.

Entre as estatais, a Petrobras, com o maior orçamento entre todas - de R$91,3 bilhões - permanece justamente nas mãos do PT. Mas deve acomodar na diretoria indicados do PMDB e do PP. O PT deve perder o controle de Itaipu para o PDT do senador Osmar Dias.

O PMDB quer ainda emplacar outros nomes em diretorias das estatais. Pelo menos, o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima na Infraero e o senador Hélio Costa em Furnas.

No caso das estatais, dos R$107,548 bilhões de investimentos previstos para 2011, R$91,3 bilhões são do Grupo Petrobras, 84% do total. O setor elétrico responde por R$8,16 bilhões, sendo que Furnas tem R$1,2 bilhão, e a Eletronorte, R$807 milhões.

O setor financeiro, tendo o Banco do Brasil e a Caixa como carros-chefe, tem R$3,45 bilhões de investimentos previstos para 2011 e deve continuar nas mãos do PT.