Título: O império de Magro, o czar dos combustíveis
Autor: Otavio , Chico
Fonte: O Globo, 28/11/2010, O País, p. 13
Um império que floresceu nos últimos dez anos cerca o empresário Ricardo Andrade Magro, apontado como chefe de uma quadrilha de fraudadores de ICMS. Discreto, Magro, uma espécie de czar dos combustíveis no país, tem hoje, em seu nome, oito empresas - cinco delas distribuidoras do setor. O empresário é um dos controladores da refinaria de Manguinhos. Em 2007, o empresário, que é também advogado, abriu uma consultoria jurídica em São Paulo, chamada Ricardo Andrade Magro Advogados Associados. A empresa é uma das 17 que tiveram o sigilo bancário e fiscal quebrado por decisão da juíza Maria Elisa Lubanco, da 20ª Vara Criminal, na investigação sobre a quadrilha.
Além de atuar como empresário e advogado, Magro circula entre políticos. Nas gravações listadas no inquérito da 20ª Vara Criminal, são detalhadas conversas entre ele e um parlamentar do Rio, que deixam claro a tentativa do "deputado ou senador" de influenciar, a pedido dele, nas decisões da Braskem, empresa do Rio Grande do Sul, que beneficiariam a refinaria de Manguinhos. Na semana passada, o deputado federal Eduardo Cunha disse que já usou os serviços de Magro como advogado e que teve com ele encontros pessoais e profissionais.
Empresário: não há pulverização
De acordo com fiscais de renda ouvidos pelo GLOBO, o empresário também tinha trânsito na Secretaria estadual de Fazenda, durante as gestões de Benedita da Silva e Rosinha Garotinho.
Os negócios que envolvem o sobrenome Magro não param aí. Uma outra empresa, a TM Distribuidora está em nome de Gabriela Conceição Andrade Magro e Ernesto dos Santos Andrade. Um dos endereços da empresa, na Junta Comercial (em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense), é o mesmo da Inca Distribuidora, em nome de Hiroshi Abe Junior - também acusado nas investigações de ser integrante da quadrilha que frauda ICMS no estado. Vizinhos disseram que no local funcionariam a TM ou a Tiger Oil. E que caminhões da Fera Combustível já foram vistos no endereço em Duque de Caxias.
A Inca e a TM foram as primeiras empresas a se beneficiarem do regime de recolhimento especial para as distribuidoras de combustível no estado do Rio, em 2002, depois de decreto assinado pela então governadora Benedita. Magro, através da assessoria de Manguinhos, afirmou não ter relação comercial alguma com a Inca. Ele chegou a constar como representante legal da Inca. Sobre a TM, Magro disse, por meio de sua assessoria, que a empresa deixou de exercer atividades de distribuição desde 2005.
Em 2007, CPI da Assembleia Legislativa do Rio que apurou evasão fiscal no estado apontou que apenas a Inca teria deixado de recolher R$730 milhões em ICMS ns compras de gasolina da refinaria de Manguinhos, depois de decreto de 2005 que diferia ICMS da gasolina para o comprador.
Apesar da quantidade de empresas ligadas a ele ou a parentes, todas do mesmo setor, Magro afirma que não há "qualquer tipo de pulverização" em seus negócios. O advogado, perguntado sobre os clientes de sua empresa de consultoria jurídica, informou que o "escritório não faz quaisquer comentários sobre a sua carteira de clientes, como é praxe do mercado".
O Grupo Andrade Magro inclui também as empresas Fera Combustível e Ampar Participações. A empresa Tiger Oil também aparece nos nomes de João Manuel Magro e Manoel Joaquim Andrade - o patriarca do grupo. Em 1969, Manuel abriu, em Guarulhos, o posto Nova Aliança. Genro de Manuel Joaquim, João Manuel entrou como sócio no posto. Nos anos 70, o grupo cresceu, passando a operar cerca de 40 postos.
O empresário atua ainda na área de consultoria. Em 2006, abriu a empresa Pragmatismo Consultoria, que presta serviço de assessoria, consultoria e planejamento empresarial.
No endereço da Magro Empreendimentos, em Guarulhos, na Grande São Paulo, funciona outra empresa. No endereço residencial de Hiroshi Abe, no bairro de Cangaíba, região simples, na Zona Leste de São Paulo, mora a tia dele, Aparecida Ferreira Lorena. Ele não foi localizado pela reportagem. Integrantes da família já foram sócios de outras empresas, entre elas a Sul-Americana e a JPJ Distribuidora de Petróleo.
Em dezembro de 2008, o grupo, através da Grandiflorum e da Ampar, comprou a refinaria de Manguinhos da multinacional espanhola Repsol e da Lorena Participações por R$7 milhões. A empresa devia R$40 milhões a bancos e tinha fechado o primeiro semestre de 2008 com prejuízo de R$17 milhões. A Grandiflorum foi presidida, até dezembro do ano passado, pelo ex-assessor da Casa Civil Marcelo Sereno. Apesar de negar sociedade na empresa, Sereno aparece como sócio da Grandiflorum nos registros da Serasa. Segundo o ex-assessor, os registros estão errados.
COLABORARAM:Alessandra Duarte e Marcelle Ribeiro