Título: PMDB empaca as férias
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 15/07/2009, Política, p. 3
Aliados de Sarney divergem sobre nomes do Conselho de Ética, e oposição boicota votação de Lei de Diretrizes Orçamentárias
Renan: adiamento do Conselho de Ética e, por tabela, do recesso
Foi uma no cravo, outra na ferradura. O governo garantiu a instalação da CPI da Petrobras, mas não cumpriu a outra parte do acordo para que todos saíssem de férias ainda hoje. Num recuo calculado, o PMDB tirou da cena de ontem o outro campo em que os oposicionistas desejam promover o embate com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP): o Conselho de Ética da Casa, desaguadouro de todas as representações contra senadores por quebra de decoro. É que, para deslanchar o conselho antes do recesso, o PMDB quer assegurar que seu presidente seja aliado de primeira hora de Sarney e incapaz de deixar correr solto ou ceder às pressões externas para abertura de um processo político contra o presidente da Casa.
O problema é que, se o conselho tem um presidente suscetível a ponto de acolher denúncia contra Sarney, o peemedebista estaria automaticamente afastado do cargo até o julgamento final. Significa que a Casa ficaria sob o comando do primeiro-vice presidente, Marconi Perillo (PSDB-GO), o que nem o governo nem o PMDB desejam. Por isso, o PMDB passou a acenar com o nome do senador Paulo Duque (PMDB-RJ) para presidir o colegiado.
O impasse surgiu porque os demais partidos da base indicaram o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), nome que tem a simpatia do PT, mas o PMDB considera um risco por conta do comportamento independente do líder socialista, Renato Casagrande (ES), que já pediu o afastamento de Sarney do cargo. Ontem à tarde, o líder do PMDB Renan Calheiros (AL) conversou com Valadares e Duque, numa tentativa de buscar acordo, mas o PMDB e a base do governo, senhores da maioria também no conselho, adiaram a instalação para hoje.
O adiamento irritou a oposição, que saiu da instalação da CPI da Petrobras crente que iria direto para a reunião do Conselho de Ética. Por isso, os oposicionistas nem contestaram o encerramento da sessão da CPI tão logo foram eleitos o presidente, senador João Pedro (PT-AM), e o relator, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), pelo placar que o governo esperava: 8 a 3.
¿Sem conselho, não tem LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias, que precisa ser votada antes do recesso)¿, disse Perillo ao cruzar com Cristovam Buarque (PDT-DF) no corredor do Senado. ¿Veja só a que absurdo chegamos. O Conselho de Ética condicionado a um presidente palatável a um partido. O conselho deveria ser a primeira coisa a ser instalada num Parlamento¿, comentou o pedetista. Mas, no Senado, ficou por último.
Perfis
Quem são o relator e o presidente da CPI da Petrobras Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press - 9/7/09 Romero Jucá
Apadrinhado desde sempre
O eterno líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), 54 anos, começou a despontar na carreira política em setembro de 1988, quando o então presidente da República, José Sarney, o nomeou para governador do Território de Roraima, hoje estado. E é justamente o padrinho que ele terá a missão de proteger na CPI que vai relatar. Economista e pós-graduado em engenharia, ele começou sua missão de relator da CPI da Petrobras dentro do combinado, anunciando que o programa de trabalho só sai em agosto. Jucá chegou ao Senado para seu primeiro mandato em 1995 e foi vice-líder do governo Fernando Henrique Cardoso, como integrante da bancada tucana. Hoje, no PMDB, é líder do governo Lula. Seus amigos na Casa têm uma máxima: não é Jucá quem muda, quem muda são os governos.
Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press - 27/5/09 João Pedro
Companheiro de Lula
A CPI da Petrobras estará sob o controle do senador que vem justamente dos dois partidos que estarão no foco das investigações: o PT, berço do presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), dirigida pelo ex-deputado Haroldo Lima, do PCdoB. Foi no PCdoB que o técnico em agronomia João Pedro, natural de Parintins, começou a sua carreira política, em 1982, como deputado estadual. Foi ainda vereador pelo partido. Mudou-se para o PT em 1991 e sempre coordenou as campanhas de Lula no estado. Em 2002, por exemplo, foi candidato a governador a fim de dar um palanque ao presidente, que mais tarde lhe retribuiria o gesto, fazendo do petista suplente de Alfredo Nascimento ao Senado. Quando Nascimento assumiu o Ministério dos Transportes, João Pedro virou senador.
Estratégia do atraso
A oposição começa a vislumbrar uma possibilidade de transformar o limão do recesso parlamentar que atrapalha a CPI numa limonada para agosto. É que, quanto mais tempo demorar para engrenar a CPI da Petrobras, mais próxima da eleição de 2010 ela ficará. Sendo assim, calculam, há duas saídas: ou os governistas terminam por soltar um pouco as rédeas e deixam a CPI caminhar ou correm o risco de perder votos, já que muitos deles se sustentam com votos de opinião, especialmente, o PSB e o PDT.
Diante dessa perspectiva foi que, ontem, ninguém no PSDB ou no DEM fez barulho na hora em que o presidente da CPI, senador João Pedro (PT-AM), anunciou que estava encerrada a sessão. Nem deu tempo de o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do pedido de CPI, apresentar a lista de 28 pedidos, entre convocação e testemunhas e envio de documentos, como cópias das operações da Polícia Federal que tiveram como alvo a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Petrobras.
O governo, por sua vez, só pretende deixar que isso ocorra se os oposicionistas permitirem a José Sarney (PMDB-AP) administrar o Senado em paz. Como ainda não há essa perspectiva de acordo, a oposição vai aproveitar esse período de recesso para buscar informações que lhe permitam deslanchar as investigações com a pressão externa. É nesse clima, sem consenso e com todos se armando para agosto, que o Senado pretende entrar em férias. (DR)
Elogios a Collor
» Em lados opostos na eleição de 1989, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello escolheram a terra do ex-presidente para mostrar que deixaram as diferenças de lado. Em visita à pequena cidade de Palmeira dos Índios, no interior de Alagoas, Lula fez elogios de sobra ao, hoje, aliado. Ainda assim, criticou em sua fala o ¿compadrio¿ de políticos que o antecederam. Logo na abertura do discurso, o presidente agradeceu a Collor e ao também senador Renan Calheiros (PMDB-AL) a ajuda que eles têm prestado ao governo no Congresso.