Título: Expectativa de socorro à Irlanda ajuda Bovespa
Autor: Alencar, Emanuel
Fonte: O Globo, 19/11/2010, Economia, p. 40

O TOMBO DO TIGRE: Novo aperto fiscal anunciado na Grécia também estimula o bom humor do mercado financeiro

Bolsa de São Paulo sobe 1,5%, para 70.781 pontos. Dólar recua para R$1,716, com maior otimismo entre investidores

Emanuel Alencar*

RIO e NOVA YORK. A expectativa de que a Irlanda tome um empréstimo da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) fez a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechar ontem em alta. Seu principal índice, o Ibovespa, avançou 1,54%, aos 70.781 pontos. Já o dólar comercial caiu frente a várias moedas do mundo. No Brasil, a queda foi de 0,57%, para R$1,716 para venda. O Banco Central (BC) fez um leilão de compra de dólares no mercado à vista e retirou de circulação R$70 milhões, segundo estimativas de mercado. Frente ao euro, o recuo foi de 0,80%; em relação à libra esterlina, de 0,83%; e ao dólar canadense, de 0,44%.

De acordo com o gerente da mesa de câmbio da Souza Barros, Luiz Antônio Abdo, a baixa do dólar é uma tendência global. Os investidores parecem estar mais dispostos a investir em ativos considerados arriscados, diante da perspectiva de que a Irlanda será socorrida, o que também teria puxado a alta das bolsas.

Ações também sobem em Wall Street e Europa

O analista da Corretora Um Investimentos, Paulo Hegg, acredita que há espaço para uma recuperação na Bovespa:

- A preocupação pelo aperto monetário da China para segurar a inflação já foi digerida pelos mercados, e o sentimento agora é mais positivo pelo pacote para a Irlanda - disse Hegg. - A agenda dos investidores não traz grandes destaques, e terminou a temporada de balanços de empresas. Há, portanto, ambiente favorável a uma recuperação.

Entre os ativos de maior peso sobre o Ibovespa, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Vale avançaram 2,35%, a R$49,45; as da Petrobras subiram 1,76%, a R$25,90; e as do Itaú Unibanco, 0,99%, a R$41,51.

Em Nova York, o índice Dow Jones, o principal indicador de Wall Street, fechou em alta de 1,57%. O Nasdaq, que mede as variações dos papéis de empresas de tecnologia, avançou 1,55%, e o S&P 500, que reúne as 500 principais empresas dos EUA, subiu 1,54%.

- Tivemos hoje as commodities subindo com a recuperação do euro. O humor melhorou - afirmou Kelly Trentin, analista-chefe da Spinelli.

A expectativa com relação à ajuda para a Irlanda teve reflexo positivo nas bolsas europeias. Em Londres, o índice Financial Times fechou em alta de 1,34%, a 5.768 pontos. Em Frankfurt, o índice DAX subiu 1,97%, para 6.832 pontos. Em Paris, o índice CAC-40 ganhou 1,99%, a 3.867 pontos.

- A Irlanda tem sido a causa da onda de vendas nesta semana, e com o país inclinado a conversar com o FMI e a UE, isso acalmou preocupações de todos - disse Mark Priest, operador sênior de ações da ETX Capital. - Se tudo vai ficar estável, e eles vão injetar dinheiro nesse problema, então não há razão por que os mercados não podem subir.

Segundo Abdo, da corretora Souza Barros, o anúncio de mais medidas fiscais pela Grécia ontem contribuiu para o dia de otimismo do mercado.

O governo da Grécia anunciou ontem que adotará novas ações de austeridade para reduzir o déficit fiscal do país para 7,4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no próximo ano. Trata-se da mais recente iniciativa do governo para cumprir os termos do resgate financeiro acertado com o FMI e a UE, em maio deste ano.

Aperto fiscal grego inclui novas privatizações no país

O déficit terá uma redução de 5,1 bilhões em 2011 comparado a este ano, segundo a proposta final do Orçamento de 2011 submetida ao Parlamento. A quantia é maior que a redução de 2,2 bilhões projetada pela proposta inicial publicada no mês passado. Os ministros de Finanças da zona do euro pediram que Atenas cortasse mais gastos para cumprir as metas fiscais combinadas no programa de resgate de 110 bilhões.

- Para atingir as metas orçamentárias de 2011, nós precisamos de esforços adicionais, baseados na racionalização do gasto público e em reformas estruturais - afirmou o ministro de Finanças grego, George Papaconstantinou, ao Parlamento antes de submeter o Orçamento.

Na segunda-feira, o governo fez uma revisão dos números de déficits passados e concluiu que estão em piores condições do que o estimado previamente. Segundo o estudo, a Grécia deve ficar aquém das metas fiscais que havia projetado para 2010, porque as medidas de austeridade implementadas - e que geraram uma onda de protestos sociais no país - afetaram acima do esperado as receitas tributárias do governo, prejudicando a conta fiscal do país.

De acordo com a BBC Brasil, o governo também anunciou ontem que a economia do país vai encolher 4,2% este ano e 3%, em 2011. Na projeção anterior, previa-se uma queda do PIB de 2,6% no próximo ano.

O novo pacote de austeridade amplia a lista de empresas a serem privatizadas, além de incluir a venda de quatro aviões Airbus A340 que pertencem ao Estado grego. Entre as empresas estatais postas à venda ou que serão parcialmente privatizadas, estão a operadora de trens Trainose, a mineradora Larko, a operadora de gás Depa e a fabricante de armamentos Hellenic.

(*) Com agências internacionais