Título: Atritos com PT ao presidir Câmara de Vereadores
Autor: Lima, Maria; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 21/11/2010, O País, p. 11

Cardozo nunca teve a simpatia de Lula, mas se aproximou de Dilma

BRASÍLIA. Na época em que presidiu a Câmara de Vereadores de São Paulo, José Eduardo Cardozo pagou um preço por sua atuação independente. Ele assumiu com a perspectiva de moralizar a Casa. Passou a ser taxado como inconfiável por setores do PT paulista.

Cardozo, que até hoje dá aulas na PUC paulista, ganhou expressão na política quando foi secretário de Governo da então petista Luiza Erundina na prefeitura de São Paulo. Depois, como vereador, presidiu a CPI que investigou a corrupção da gestão Celso Pitta. A atuação na CPI rendeu sua reeleição como o vereador mais votado do Brasil, com 229 mil votos. Foi com essa votação maciça que assumiu a presidência da Câmara de Vereadores durante a gestão de Marta.

Na gestão da prefeita Luiza Erundina, Cardozo chefiou a comissão de sindicância que investigou o chamado caso Lubeca, envolvendo o então vice-prefeito e secretário de Negócios Jurídicos, Luiz Eduardo Greenhalgh. A investigação levou à demissão de Greenhalgh da secretaria, por "quebra de confiança". O escândalo relacionava o PT a uma suposta cobrança de propina na Prefeitura de São Paulo, em 1989. Greenhalgh foi acusado de enviar um intermediário à incorporadora Lubeca para pedir doação para a campanha do PT.

Na época, a empresa tentava liberar na prefeitura um projeto urbanístico de US$600 milhões. A doação pedida, de US$200 mil, iria para a campanha do então candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. O caso foi investigado pela Câmara de Vereadores e pela Polícia Civil, mas acabou arquivado por falta de provas. Por causa do episódio, Cardozo nunca teve a simpatia de Lula.

Já na Câmara dos Deputados, mesmo mostrando competência na área constitucional, Cardozo foi vetado para vários cargos importantes, inclusive a presidência da CCJ. Ligado à corrente petista Mensagem ao Partido, de Tarso Genro, atual governador eleito do Rio Grande do Sul, não conseguiu suceder-lhe no Ministério da Justiça, em abril passado, quando Tarso se desincompatibilizou para a eleição.

Com excelente trânsito no Congresso, inclusive na oposição, Cardozo é considerado bem articulado e de espírito conciliador. Ele despertou inveja entre parlamentares quando assumiu o namoro com a deputada Manuela D"Ávila (PCdoB-RS).

- Cardozo foi muito invejado porque Manu é bonitinha demais! A gente tinha quase uma reverência por ele, por ter conquistado o coração dela. Mas os dois eram muito discretos. Nunca ficaram nem de mãos dadas no plenário - conta o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

O namoro terminou, mas os dois continuam amigos.

Passada a fase de infortúnios no PT, Cardozo se aproximou muito de Dilma e tem sido sua companhia constante. Na equipe de transição, é sempre consultado sobre temas da área de segurança e justiça.