Título: Plano contra caos aéreo
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 21/11/2010, Economia, p. 41

Governo e companhias montam operação para evitar atrasos nos aeroportos no fim do ano

Para evitar a reedição das cenas de caos nos aeroportos durante o Natal e o Ano Novo, governo e companhias aéreas montaram um plano de contingência, que será apresentado amanhã na sede da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), no Rio. Além de aviões e tripulação reserva em pontos estratégicos e reforço nos balcões de check-in, no embarque e no desembarque, uma das novidades é a criação de uma autoridade aeroportuária em Guarulhos (o maior terminal do país), que vai reunir Polícia Federal, Receita Federal, Vigilância Sanitária, Infraero e empresas a fim de facilitar o fluxo de passageiros e de despacho de bagagens.

Somente na segunda quinzena de dezembro, são esperados cinco milhões de passageiros nos principais aeroportos do país - alta de 20% em relação ao movimento registrado no mesmo período de 2009, segundo a Infraero. O número de partidas deverá superar 50 mil.

No aeroporto de Brasília, que funciona como hub (centro de distribuição de rotas), uma das medidas é a entrada em funcionamento do terminal provisório de passageiros. Com estrutura metálica, mas aparência interna semelhante à tradicional, o espaço tem quatro portões de embarque - uma solução alternativa que está sendo copiada em outras capitais.

Este ano, a operação começou a ser planejada mais cedo, depois que vieram à tona atrasos e cancelamentos de voos decorrentes do excesso de carga horária da tripulação, detectado nas companhias Gol e Webjet. Outra finalidade do plano, explicou uma fonte, é minimizar os gargalos (no pátio de aeronaves e no terminal de passageiros) e evitar que o setor fique no olho do furacão, prejudicando ainda mais a imagem do país que vai sediar a próxima Copa do Mundo.

Anac vai conferir quadro de tripulantes

A autoridade aeroportuária é uma iniciativa inédita e vai entrar em funcionamento em caráter experimental uma semana antes do Natal, até o dia 10 de janeiro, das 5h às 12h e entre 17h e meia-noite. Sob coordenação da Anac, não haverá subordinação dos órgãos envolvidos, mas uma atuação conjunta, na tentativa de evitar problemas aos passageiros. Por exemplo, organizar melhor as filas no passaporte e na alfândega - atendimento especial para determinados voos - ou mesmo desocupar uma posição no pátio para um avião com carga que terá de ser inspecionada pela Vigilância Sanitária.

Se der certo, a proposta será estendida aos principais aeroportos do país. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, chegou a anunciar sua criação, mas a ideia não vingou porque teria causado melindres devido à posição de controle da Infraero.

Antes de anunciar o plano, a Anac se reunirá com representantes das companhias para passar planos de contingência de cada uma. A agência quer saber se o quadro de 14,5 mil tripulantes (pilotos, copilotos e comissários) é suficiente para atender o aumento de operações no fim de ano e se haverá horas de voo disponíveis, caso seja necessário acionar avião-reserva. O limite é de 230 horas por trimestre, na prática 76 horas por mês.

Uma das desconfianças do órgão regulador é que as companhias Gol, Webjet e Avianca cancelaram voos nos últimos meses para poupar horas de voo - medida legal se não prejudicar o passageiro. Segundo a Infraero, em setembro, outubro e novembro, o índice de cancelamento de voos da Gol atingiu 7,61%; da Avianca, 7,13%; e da Webjet, 6,87%. TAM e Azul ficaram na casa dos 3%.

O vice-presidente de Operações e Manutenção da TAM, Ruy Amparo, informou que a companhia terá cinco aviões-reserva para voos de média distância em tempo integral em Congonhas, Guarulhos e Galeão, além de três aeronaves que fazem rotas internacionais (com capacidade até 363 lugares) durante o dia para atender imprevistos, como fechamento de aeroportos.

Neste caso, a companhia selecionou quatro aeroportos-chave, como terminais alternativos (Ribeirão Preto, Curitiba, Confins e Galeão). Haverá, ainda, um rodízio das equipes entre os principais aeroportos. O movimento na ponte aérea Rio-São Paulo cai perto do Natal, mas cresce no Réveillon, exemplificou Amparo.

- A palavra-chave é planejamento de contingência, saber o que fazer em caso de imprevisto. Não adianta só ter avião-reserva - afirmou Amparo, acrescentando que, desde junho, a TAM contratou 1.300 funcionários, sobretudo comissários, para reforçar o quadro-reserva.

O plano da Gol prevê quatro aviões-reserva nos seus aeroportos mais críticos (Congonhas, Brasília e Galeão). Para o diretor de Relações Institucionais da Gol, Alberto Fajerman, o maior vilão serão as condições climáticas, o que poderá provocar atrasos, sobretudo numa malha enxuta como a da Gol.

A Azul colocará um avião-reserva em Viracopos (Campinas) e contratou mais 250 funcionários, sendo cem para operações nos aeroportos e 150 atendentes de call center. Terceira no mercado, a empresa foi a que mais pediu voos para a Anac neste fim de ano (86% a mais, enquanto o índice da Gol nos destinos domésticos foi de 12% e o da TAM, de 14%).

O vice-presidente de Operações da Webjet, Fernando Sporlerder, informou que a empresa terá dois aviões-reserva em Porto Alegre e Guarulhos - na virada do mês, novas aeronaves serão incorporadas à frota. Ele garante que não faltarão tripulantes e que foram contratados 180 funcionários.

Alvo contumaz de críticas, a Infraero promete apertar as empresas e realizar nos aeroportos das capitais a campanha "Fique por dentro", com adesivos em áreas movimentadas para orientar o passageiro sobre quem ele deve procurar para obter informação de voo e sobre devolução de bagagem, por exemplo. A estatal vai exibir um filme nos terminais para facilitar a passagem pelos aparelhos de raios x, além de monitorar as redes sociais para levantar e resolver as queixas dos usuários.

Para a demanda extra, a estatal informou ainda que contratou funcionários e aumentou a frota de ônibus (embarque remoto) e a quantidade disponível de carrinhos de bagagem.

O plano de contingência prevê também a articulação com o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea, no Rio, cuja missão é controlar o fluxo de aeronaves, de acordo com a infraestrutura existente.