Título: Lula participa hoje de reunião esvaziada de cúpula da Unasul
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 26/11/2010, O País, p. 4

Metade dos líderes deve estar presente. Dilma desistiu de acompanhar presidente

GEORGETOWN. Na semana em que sua sucessora, Dilma Rousseff, se desdobrava para decidir a composição do novo governo, o presidente Lula deixou o país ontem para participar hoje na Guiana de uma reunião de cúpula esvaziada. Dos 12 chefes de Estado que integram a Unasul (União das Nações Sul-Americanas), metade estaria presente. Além do Brasil e da Guiana, eram esperados os presidentes de Equador, Venezuela, Suriname, Argentina e Paraguai. A Unasul foi formalizada em maio de 2008 em Brasília, com forte apoio do governo brasileiro, mas ainda não deslanchou.

Dilma, que era considerada presença certa no encontro, desistiu formalmente da viagem na quarta-feira. O encontro de hoje marca a transferência da presidência de turno do Equador para a Guiana e discutirá a adoção de um protocolo de compromisso democrático - em moldes semelhantes ao que há no Mercosul e que preconiza que países não democráticos não podem integrar o bloco.

Presidentes devem escolher substituto de Kirchner

Os presidentes também deverão escolher o substituto de Nestor Kirchner, ex-presidente da Argentina morto no mês passado, para a função de secretário-geral da entidade.

Ontem à noite, logo depois de sua chegada, Lula receberia das mãos do presidente guianense, Bharrat Jagdeo, a Ordem de Excelência, a mais alta distinção honorífica daquele país. Nestor Kirchner será homenageado hoje, em memória, por sua atuação no Mercosul. Ele foi um dos responsáveis pela reaproximação entre Venezuela e Colômbia.

Na agenda bilateral, Lula e Jagdeo discutirão a participação do Brasil na construção de uma usina hidrelétrica na Guiana. O país sofre constantes apagões - precavido, o governo guianense entregou, com as credenciais dos jornalistas, uma pequena lanterna para cada um.

Apesar de participar da Unasul, a Guiana não tem uma identidade cultural grande com os latinos. A maioria de sua população (51%) é constituída de imigrantes da Índia - os indianos começaram a chegar à Guiana em meados do século XIX para substituir os escravos no corte da cana de açúcar. É comum ver na capital vários templos hindus e casarões - a maioria de madeira - onde famílias inteiras vivem sob o mesmo teto.

Em Georgetown, proliferam-se os mosquitos e doenças como febre amarela e malária. O esgoto a céu aberto, numa simulação dos canais holandeses - a Holanda colonizou o país até o início do século XIX -, deixa a cidade com um cheiro pouco suportável.

Lula ainda terá duas oportunidades de dizer adeus aos amigos presidentes. A próxima será no México, na COP-16, que não terá o mesmo apelo que a do ano passado, em Copenhague, onde os principais líderes mundiais discutiram o superaquecimento da Terra. O último compromisso internacional do presidente será em Foz do Iguaçu, na reunião do Mercosul, na segunda quinzena do mês que vem.