Título: Otimismo com futura política econômica
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Fonte: O Globo, 26/11/2010, Opinião, p. 6
Pode-se entender que na entrevista coletiva concedida por três ministros do próximo governo, na quarta-feira, foram estabelecidos marcos-chave do que será a política econômica na gestão Dilma Rousseff. E eles estimulam esperança e otimismo. As posições defendidas por Guido Mantega, mantido no Ministério da Fazenda; por Miriam Belchior, que assumirá o Planejamento, e Alexandre Tombini, atual diretor de Normas do Banco Central e próximo presidente da instituição - cargo, até segunda ordem, com status ministerial -, são adequadas para o governo Dilma manejar alguns dos principais problemas da economia: inflação em alta, gastos em continuada e perigosa ascensão, além de investimentos públicos não apenas baixos, mas executados com lentidão
Num dos temas mais delicados para o futuro da economia, Tombini foi muito direto: "Ela (Dilma) me disse que nesse regime (de metas de inflação) não tem meia autonomia. Temos autonomia operacional total." E foi adiante, ao assumir o compromisso de cumprir a meta de inflação, cujo centro é 4,5%. Ela, porém, deve fechar o ano acima de 5,5%, e a média das últimas projeções do mercado aponta para 5,15% em 2011. Alexandre Tombini, funcionário público de carreira, com sólida formação em economia - elogiado até por tucanos - e experiência no exterior, no FMI, tem muito trabalho pela frente. A começar pela próxima reunião do Copom, em dezembro, ainda com Henrique Meirelles à frente do BC. O aumento de 0,25 ponto percentual que se espera da taxa básica para janeiro até poderá ser antecipado, especulam analistas. Se isto ocorrer, facilitará o início da gestão de Tombini.
Ele será ajudado pela conversão - embora tardia - ao rigor fiscal anunciada por Guido Mantega, entusiasmado "desenvolvimentista", executor abnegado da perigosa política de expansão acelerada dos gastos em custeio posta em prática em 2009, sob o álibi da crise financeira mundial, deflagrada em setembro de 2008. Era mesmo necessário se contrapor às pressões recessivas vindas de fora, mas o indicado seria acionar os investimentos públicos, e não gastos que se eternizam - salário de servidores, assistencialismo, Previdência (via salário mínimo).
Contornada a recessão - e eleita Dilma Rousseff, outro evidente objetivo da política temerária de expansão fiscal -, Mantega manda o recado de que é preciso conter a velocidade de crescimento das despesas em custeio. Tem razão. Mas será preciso contrariar os partidos aliados, todos com demandas contadas aos bilhões, e ainda rejeitar pressões de dentro do Estado. O Supremo Tribunal, por exemplo, quer um reajuste de 56% para os ministros. Como estes reajustes, devido à aplicação deletéria da regra da isonomia, se propagam a várias outras categorias do serviço público, atender ao pedido significa desestabilizar de vez o Orçamento. Nesta batalha, Mantega terá de contar com a ajuda da mediação político-parlamentar do futuro governo.
Míriam Belchior, por sua vez, promete "fazer mais, com menos". A ideia é perfeita; o problema é executá-la em cargo público. Ela, é certo, terá muito o que fazer para tirar o PAC do atoleiro da burocracia de uma máquina inchada pelo governo Lula.
De tudo que foi dito, resulta uma política econômica com os pés no chão. Agora, é esperar o anúncio de medidas concretas.