Título: Meirelles: banco PanAmericano influiu na decisão de manter juros
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 26/11/2010, Economia, p. 30

BC sabia de "inconsistências contábeis" no sistema financeiro desde junho

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) já sabia que existiam "inconsistências contábeis" - que depois descobriu-se serem os R$2,5 bilhões de rombo no banco PanAmericano - no sistema financeiro nacional desde o fim do primeiro semestre deste ano. Essa questão foi um dos aspectos que pesaram nas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) de julho - quando a Taxa Selic foi elevada em meio ponto percentual, para 10,75% ao ano - e setembro, quando os juros foram mantidos.

A informação foi passada ontem pelo próprio presidente do BC, Henrique Meirelles, em reunião periódica com economistas de mercado. Ele explicou que, naquele momento, a autoridade monetária não sabia o tamanho do problema nem onde ele se encontrava. Mas acendeu a luz amarela sobre a possibilidade de risco de crédito no mercado.

Nos meses passados, o BC recebeu muitas críticas do mercado financeiro sobre sua decisão de não subir a Selic mesmo com a inflação crescendo e distanciando-se cada vez mais do centro da meta do governo para 2010 e 2011, de 4,5% pelo IPCA.

- Todo mundo fora do BC e do Copom não sabia as razões para a tomada de decisões, nem podia saber - afirmou Meirelles. - Isso levou a muitas considerações, e agora devemos deixar claro o que estava acontecendo.

Sinais recentes dados por Meirelles fizeram com que alguns economistas mudassem suas apostas e antecipassem suas projeções de novo aperto monetário a partir de janeiro de 2011, e não mais em abril, como mostra a pesquisa Focus. O Copom também se reúne em dezembro.

BC sinalizou que política fiscal vai melhorar, diz analista

Isso porque, com o problema do PanAmericano solucionado, o eventual risco de crédito no país foi limado. No entanto, especialistas também acreditam que outros sinais foram emitidos.

- Eles deixaram claro que a política fiscal virá melhor (daqui em diante) - afirmou o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani.

Meirelles defendeu que a equipe da presidente eleita, Dilma Rousseff, indicou mais austeridade fiscal, o que auxilia na política monetária:

- Havia incertezas sobre a questão fiscal - disse. - Eu quero chamar a atenção que essas são questões que estão sendo esclarecidas.