Título: COP-16 começa esvaziada em Cancún
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 29/11/2010, O País, p. 11

Estrela da reunião de Copenhague, Lula agora desistiu de comparecer

BRASÍLIA. A 16ª Conferência das Partes da Convenção Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-16) começa hoje em Cancún, no México, com um desafio duplo: fazer as negociações resultarem em avanços em áreas específicas, como financiamento, mitigação e adaptação; e evitar que o esvaziamento político da reunião deixe a convenção desacreditada. O evento está tão esvaziado que até o presidente Lula, que não tem perdido oportunidade de se despedir do cenário internacional e foi a grande estrela da última cúpula climática, em Copenhague, desistiu na última hora de comparecer.

A presidente eleita, Dilma Rousseff, também cogitou desfilar com Lula na COP-16, mas mudou de ideia, na semana passada. Lula não quer fechar seu governo com a foto em que não vão figurar chefes de Estado ilustres como Barak Obama e Nicolas Sarkozy.

Enquanto no ano passado a COP-15, em Copenhague, levou quase 120 chefes de estado ao país nórdico - para tentar fechar um acordo com metas obrigatórias de redução de emissões de gases-estufa que os países ricos devem cumprir a partir de 2013 -, em Cancún, menos de 30 presidentes e primeiros-ministros deverão registrar presença.

A maior parte dos que estarão em Cancún virá de países latinos ou daquelas nações para as quais uma solução para o aquecimento global é questão de vida ou morte, como as pequenas ilhas de Antígua e Barbados, entre o Caribe e o Oceano Atlântico. Se nada for feito a fim de conter a escalada da temperatura que gera a aceleração do derretimento das geleiras e o consequente aumento do nível dos mares, elas estão na lista dos países que podem ser engolidos pela água.

Oito mil delegados de 194 países são esperados

Além de Antigua e Barbados, está confirmada a vinda dos presidentes da Bolívia, Guatemala, Costa Rica, Equador, Colômbia, Peru, Chile, Noruega, Kenya e Etiópia. O Itamaraty tem a informação de que o primeiro-ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, e o presidente sul-africano, Jacob Zuma, participarão da COP-16, mais por uma formalidade do que como prova de confiança na cúpula. É que o dinamarquês foi o anfitrião da última cúpula climática, e Zuma será o da próxima, no ano que vem.

Nas duas semanas de negociação que se iniciam hoje são esperados 8 mil delegados de 194 países, 6 mil organizações de todo o mundo e 1.500 jornalistas. Depois da derrota em Copenhague, poucos acreditam que Cancún dê as soluções esperadas para que o clima do planeta não esquente mais do que 2° C até o final do século. O objetivo consta do Acordo de Copenhague, documento assinado por 140 países, mas que não tem valor legal, e é o limite que cientistas colocam para que a Terra não sofra mudanças climáticas irreversíveis.

As ações mais esperadas são na área de financiamento, na qual deverá ser criado o Fundo Verde Climático, com doações de países ricos para investimentos em tecnologias mais limpas nos países emergentes.