Título: Para Mantega, IGPs não refletem preços reais
Autor: Barbosa, Flávia; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 27/11/2010, Economia, p. 42

Ministro afirma que não há previsão de usar IPCA sem alimentos e combustíveis como outro parâmetro para meta de inflação

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acredita que o Brasil deveria descartar o uso dos IGPs na correção de contratos, como os de concessão, para cortar o vício da indexação, herança dos tempos de hiperinflação. Para ele, os índices gerais de preços de mercado (IGP-M) e disponibilidade interna (IGP-DI), calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), não refletem a real situação dos preços na economia. Ao fixarem a inflação num patamar mais elevado, acabam sendo uma barreira à redução mais acentuada dos juros.

Os IGPs - que têm 60% de sua estrutura influenciada pelos preços no atacado - carregam os custos de fábrica e importam pressões de fora, sobretudo devido à cotação das commodities.

Mas Mantega assegurou que essa discussão não tem qualquer relação com o regime de metas de inflação, que continuará em vigor e orientado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE. Não existe, segundo ele, qualquer previsão de se utilizar um IPCA expurgado de alimentos e combustíveis ou outra medida de núcleo da inflação na definição de política monetária pelo Banco Central.

Mantega afirmou que apenas tem exposto que os IGPs, adotados como indexadores no governo Fernando Henrique Cardoso, não são apropriados para a correção de contratos e devem ser substituídos por um índice novo ou por núcleos de inflação, apenas para contratos novos.

"Não estamos propondo um novo índice para a meta de inflação do país" afirmou Mantega, por meio da assessoria.

O elevado grau de indexação da economia é uma preocupação da equipe de Mantega. Um dos riscos é a retroalimentação da inflação. O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, afirma que o Brasil terá de enfrentar uma série de desafios para conviver com juros baixos.

Além de alterar a remuneração da caderneta de poupança - que ele classifica como um animal defasado -, a economia tem vários resquícios de indexação que dificultam a queda dos preços, como a Taxa Referencial (TR), que remunera a poupança e afeta os contratos habitacionais, e a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que corrige financiamentos concedidos pelo BNDES, e crédito agrícola.