Título: Mercado aumenta apostas na alta de juros
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 27/11/2010, Economia, p. 44

Contratos futuros sobem prevendo elevação da taxa em 0,5 ponto no 1º trimestre de 2011. Mas alta pode vir agora

O mercado financeiro reviu ontem, pelo quarto pregão consecutivo, suas apostas no mercado futuro sobre o início do novo ciclo de aumento dos juros básicos pelo Banco Central (BC), atualmente em 10,75% ao ano. A alta poderia começar já na reunião de dezembro - a última comandada por Henrique Meirelles - mas muitos investidores apostam também em alta de 0,5 ponto percentual da Selic no primeiro trimestre de 2011. Há quem opere também acreditando em alta de 0,5 ponto dos juros em abril.

Especialistas afirmam que, além da aceleração da inflação e da definição de Alexandre Tombini na presidência do BC, uma declaração anteontem de Henrique Meirelles, atual presidente do BC, influenciou na formação das expectativas. Meirelles atribuiu aos problemas contábeis do Banco PanAmericano parte da decisão do BC de interromper o ciclo aperto monetário desde setembro.

- A ressalva foi interpretada como possibilidade de alta dos juros antes do que a média do mercado esperava. E isso contribuiu para o aumento dos juros de curto prazo no mercado futuro - explica Maurício Molan, economista do banco Santander.

Itaú Unibanco prevê inflação de 5,9% ao fim do ano

Ontem, os contratos futuros de depósito interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2011 fecharam em 10,76%, uma alta de 0,56%. E os contratos com vencimento em março do ano que vem avançaram 1,66%. Já os juros mais longos pararam de ceder.

O Itaú Unibanco, por exemplo, antecipou ontem de abril para janeiro sua previsão de aumento dos juros no próximo ano. Para Ilan Goldfajn, economista-chefe da instituição, o aumento ocorre na reunião de dezembro porque a autoridade monetária tende a sinalizar primeiro sua intenção de elevar a Selic e fazer convergir as expectativas do mercado.

- Esperamos um aumento de 0,5 ponto em janeiro. E esse aumento não acontece antes porque o Banco Central precisa comunicar antes ao mercado - explicou Goldfajn.

Em relatório divulgado ontem, o economista elevou suas expectativas para o IPCA para 5,9% este ano e 5,7% no próximo ano. E justificou que a última leitura do índice de preço mostrou "ampla disseminação de ajustes de preços". Lembrou ainda sobre dados indicando um mercado aquecido, expansão do crédito e confiança do consumidor em patamares recordes.

Para especialista, elevação ocorre já em dezembro

Para Rodrigo Nassar, gerente da mesa financeira da Hencorp Commcor Corretora, a escolha de Tombini para o BC também influenciou a perspectiva de antecipação do aumento dos juros no curto prazo e redução no longo prazo. Mas ele mantém sua previsão de aumento da Selic em abril:

- É cedo para prever aumento de juros em janeiro ou março. É preciso aguardar novos dados de inflação. Cogitou-se a possibilidade de Meirelles aumentar em dezembro para dar gordura e espaço para Tombini. Tem gente apostando nisso, mas o mercado futuro não precificou essa alta.

Paulo Petrassi, sócio-gestor da Leme Investimentos, acredita em um aumento de juros na próxima reunião do Copom, nos dias 7 e 8 de dezembro. Segundo ele, a aceleração das expectativas de inflação e a baixa possibilidade de uma ajuste fiscal no início do próximo governo vão provocar o ajuste.

- Atualmente apenas 10% do mercado acreditam nisso. Mas acho que, em poucos dias, metade do mercado estará apostando em alta dos juros em dezembro - afirma Petrassi. - O BC peitou o mercado em reuniões passadas e manteve os juros, mas o cenário se deteriorou bastante deste então.

Já Manuel Lamas, responsável pela área de Renda Fixa da XP Investimentos, acredita em um ajuste de 0,75 ponto percentual na reunião do Copom nos dias 1 e 2 de março.

- Nos temos inflação corrente alta, elevada, principalmente na parte de alimentos, impactando muito, mas por outro lado tem também expectativa em 2011 uma política fiscal mais dura, ou seja, com menor necessidade de ajuste na política monetária.