Título: Haiti confirma validade das eleições
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Fonte: O Globo, 30/11/2010, O Mundo, p. 41
Apesar de protestos contra fraude, autoridades minimizam irregularidades
PORTO PRÍNCIPE. Apesar do clima de incerteza instalado no Haiti após 12 dos 18 candidatos à Presidência pedirem a anulação das eleições, e milhares de haitianos denunciarem a ocorrência de fraude, o Conselho Eleitoral Provisório (CEP) do país informou ontem que o pleito realizado no domingo foi válido. Num anúncio feito horas após o fechamento das urnas, o órgão disse que os protestos dos candidatos não têm peso legal, acrescentando, ainda, que houve irregularidades em apenas 56 das 1.500 zonas.
- Se for declarado que um desses (12) candidatos ganhou, eles não vão querer ser eleitos? - questionou o diretor-geral do CEP, Pierre Louis Opont, referindo-se ao pedido de anulação do pleito.
Revolta une oposição contra candidato do governo
O presidente do órgão, Gaillot Dorsainvil, pediu à população 72 horas - prazo que expira amanhã à noite - para produzir um balanço completo dos recentes acontecimentos no país. Segundo ele, o CEP vai estudar individualmente os problemas ocorridos em cada local de votação.
- O CEP estará em condições de produzir um balanço com o retorno de seus funcionários do interior, dentro de três dias, e agradece à população por ter participado na ascensão da democracia - afirmou Dorsainvil.
O repúdio ao processo eleitoral por parte dos 12 candidatos representa um golpe à credibilidade da eleição, que teve amplo apoio da ONU. As denúncias acabaram unindo-os contra Jude Célestin, candidato do presidente René Préval. Mirlande Manigat, uma das líderes da oposição, denunciou que as urnas já haviam sido preenchidas com votos favoráveis a Célestin antes mesmo do início da votação.
- Está claro que o governo de René Préval, de comum acordo com o conselho eleitoral, pôs em execução o plano para alterar o resultado das eleições, com a ajuda do Partido da União e de seu candidato, Jude Célestin - acrescentou a candidata independente Anne Marie Josette Bijou. - Desde o começo, as autoridades não esperavam que as pessoas fossem votar, mas elas estavam erradas.
Acossados por uma epidemia de cólera e ainda lutando pela reconstrução do país após o terremoto de janeiro, milhares de eleitores se revoltaram com a desorganização das eleições e tomaram as ruas de Porto Príncipe exigindo a anulação do pleito. Além de marchas, muitos destruíram urnas e percorreram os setores de Delmas e Pétion-ville, na capital, onde se encontra a sede do CEP. Soldados das forças de paz da ONU e policiais haitianos foram chamados para reforçar a segurança do local.
- Veja em que o governo gasta dinheiro - disse o eleitor Abellar Sony, brandindo um punhado de cédulas em branco, numa seção perto da favela de Cité Soleil, onde crianças brincavam com as cédulas, jogando-as para o alto.