Título: Um novo retrato da população
Autor:
Fonte: O Globo, 01/12/2010, Opinião, p. 6

A população brasileira ultrapassou a casa dos 190 milhões de habitantes (segundo o Censo de 2010, cujos dados o IBGE acaba de divulgar, somos 190.732.694 residentes no país), o que significa um crescimento de quase 21 milhões em dez anos. O Brasil cresceu, portanto, duas "Bélgicas" no período.

Mas, em termos relativos, a taxa média de crescimento continuou caindo. Na última década do século XX, a expansão demográfica foi de 15,6%. Na primeira do século XXI, esse ritmo diminuiu para 12,3%. Alguns demógrafos acreditam que em vinte anos a população se estabilizará.

Entramos, então, em uma fase que os especialistas chamam de "bônus demográfico", durante a qual a maioria da população estará em faixas etárias capacitadas a produzir, consumir, poupar e investir simultaneamente.

O bônus demográfico permitirá que o Brasil volte as suas atenções mais para a qualidade do que para a quantidade. No lugar de mais escolas, precisaremos de um ensino melhor, por exemplo. A rigor, já precisamos.

O novo retrato reproduzido pelos dados do Censo mostra que as regiões metropolitanas deixaram de inchar. São Paulo e os municípios vizinhos tiveram um fluxo migratório negativo (saíram mais pessoas do que chegaram ao longo de dez anos).

A expansão demográfica se tornou mais expressiva nas cidades médias. No Estado do Rio, no município de Rio das Ostras a população triplicou, atingindo 105 mil pessoas, a maior parte atraída pelo impacto econômico da indústria do petróleo. Trata-se também de um bom exemplo de como os investimentos realizados com recursos oriundos dos royalties foram capazes de transformar um outrora balneário de fim de semana em cidade agradável para se viver, próxima a fontes de geração de renda e emprego.

As taxas de expansão demográfica das regiões Sul, Sudeste e Nordeste se aproximaram muito (variaram de 9% a 11,2% nesta década). Já no Centro-Oeste e no Norte, regiões territorialmente enormes, mas menos populosas, o crescimento foi a um ritmo de 20,74% e 23%, respectivamente. Parte desse crescimento se explica pelo fluxo migratório; houve também uma forte expansão da população que já era residente. Ambos fatores merecem atenção, para que não se repitam nessas regiões os problemas urbanos que se verificaram nas cidades grandes e médias do Sudeste, do Sul e do próprio Nordeste em passado recente.

No próximo Censo, ao que tudo indica, a população brasileira já terá um perfil demográfico semelhante ao de países desenvolvidos, pois a participação relativa dos mais idosos é crescente, enquanto diminui a de crianças e adolescentes.

As políticas públicas terão de ser reorientadas para esse futuro perfil, o que exige, desde já, mudanças nas regras da Previdência que desestimulem as aposentadorias precoces, readaptações nos sistemas de transporte e ordenamento urbano, programas preventivos de saúde, alterações na legislação trabalhista que compensem empregados e empregadores a manterem vínculos profissionais etc. Em suma, os dados do Censo trouxeram boas notícias, mas também uma série de alertas.