Título: Rombo de R$27 milhões na campanha de Dilma
Autor: Fabrini, Fábio; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 01/12/2010, O País, p. 10

Dívida, informada ao TSE ontem, é três vezes a declarada por Serra, que terminou eleição devendo R$9,6 milhões

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A campanha da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), terminou com um rombo de R$27,7 milhões no caixa. A dívida foi informada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ontem, prazo final para a prestação de contas, e é três vezes a declarada pelo candidato derrotado à Presidência José Serra (PSDB), que chegou ao fim da corrida com R$9,6 milhões no vermelho. Para cobrir o buraco, os petistas vão pedir parcelamento aos credores. Já os tucanos, na oposição, contam com compromissos firmados com seus doadores.

A máquina que elegeu Dilma consumiu R$176,5 milhões, muito perto do teto previsto (R$191 milhões) e 58% a mais do que o presidente Lula gastou em 2006 (já descontada a inflação, pelo IPCA). O valor amealhado com empresas e pessoas físicas, porém, foi de R$148,8 milhões. Só a propaganda em TV e rádio, somada aos gastos com material impresso, abocanhou 42% dessas receitas.

A campanha tucana obteve R$120 milhões em doações, mas custou R$129,6 milhões (a metade em propaganda e "serviços de terceiros"). O montante é 34% mais alto que o declarado pelo candidato do PSDB no último pleito, Geraldo Alckmin. O "preço" de um voto foi praticamente o mesmo para Dilma e Serra (R$3), considerando-se o resultado do segundo turno.

O rombo nas contas do PT equivale a 16% dos gastos totais, mais que em 2006 (10%). O partido informou ao TSE que parcelará os débitos em até 12 vezes com os credores - os menores serão priorizados. O marqueteiro João Santana (R$6,5 milhões), gráficas (R$8,4 milhões) e o Ibope (R$5 milhões) estão entre os que mais têm a receber.

Grandes empreiteiras, bancos e multinacionais figuraram como os maiores doadores, salvo exceções. As mesmas empresas se revezaram como as principais contribuintes dos dois candidatos. No caso de Dilma, o mais "generoso" foi o frigorífico JBS Friboi (R$9 milhões), seguido das empreiteiras Camargo Corrêa (R$8,5 milhões), Andrade Gutierrez (R$5,1 milhões), UTC Engenharia (R$5 milhões) e OAS (R$4 milhões, o mesmo que o Itaú Unibanco), entre outros.

Já na lista de Serra, aparecem OAS (R$3,85 milhões), Gerdau, JBS Friboi, Camargo Corrêa e Sucocítrico Cutrale (R$3 milhões cada). A Odebrecht contribuiu com R$2,4 milhões, a Ambev, com R$2,3 milhões, e o Itaú Unibanco, com R$2,2 milhões. O empresário Eike Batista ajudou na mesma medida a ambos os candidatos: deu R$1 milhão a cada.

Tesoureiro da campanha petista, o deputado eleito José Filippi Júnior fala em mobilização para captar recursos:

- Estou otimista de que vai haver algum ingresso, pois o segundo turno foi rápido e muitos ficaram de ajudar.

O tesoureiro reclama dos prazos da legislação eleitoral, que, para ele, favorecem distorções. E defende mudanças para o próximo pleito:

- O sistema deve ser alterado. Não dá para começar a arrecadar no mesmo dia em que se começa a gastar. Antes, isso se resolvia com caixa dois. Agora, com dívida - critica, dizendo que o ideal seria ao menos seis meses de antecedência.

Os tucanos contam com promessas de doadores para liquidar a fatura, embora reconheçam que, na oposição, o caixa partidário sofre mais. O tesoureiro da campanha de Serra, José Gregori, prevê liquidar a fatura até o início do ano:

- O problema todo é essa data fatal que a legislação coloca. Se houvesse uma possibilidade de prorrogar mais 40 ou 50 dias, a conta seria zerada.