Título: Exército pode ficar no Alemão por um ano
Autor: Costa, Ana Cláudia
Fonte: O Globo, 01/12/2010, Rio, p. 14
Cabral revê prazo para instalação de UPP, que deve ter quatro bases
O governador Sergio Cabral reviu ontem, de sete para 11 meses, o prazo divulgado na véspera para a retirada das Forças de Paz do Ministério da Defesa do Complexo do Alemão. Ele e o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, afirmaram estar acertado com o governo federal a permanência do Exército na comunidade até outubro, tempo que seria necessário para a formação de novos policiais e a instalação de uma Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) na favela, considerada uma das últimas fortalezas do tráfico no Rio.
O coronel da PM Robson Rodrigues, comandante das UPPs do Rio, explicou que aquela região deve ganhar mais de uma unidade de policiamento, por sua extensão e seu grau de complexidade.
- Nós devemos ter em torno de quatro UPPs no complexo, com quatro comandantes diferentes - disse ele.
Exército fará policiamento ostensivo nas ruas
Cabral não confirmou o número de homens que será necessário para o período inicial da ocupação, mas reconheceu que a estimativa inicial apontava para algo em torno de dois mil policiais.
- Nós combinamos não solicitar um número fechado. Em princípio, falava-se em dois mil homens, mas o ministério têm todo um procedimento militar que precisa ser respeitado - disse o governador.
A presença dos militares, no entanto, não excluirá o trabalho de inteligência de policiais civis e militares no complexo. Cabral explicou que as Forças de Paz ficarão responsáveis pelo policiamento ostensivo nas ruas da comunidade. Uma vez que a presença de traficantes na região já foi combatida, o número de homens necessários para o trabalho diário deve diminuir.
- O coronel Mario Sergio Duarte (comandante-geral da PM) vai agrupar policiais de elite para trabalhar junto à Polícia Civil no garimpo de casa por casa, tanto para encontrar drogas, armas e laboratórios clandestinos quanto bandidos escondidos em casas e túneis - explicou Cabral durante a inauguração da UPP do Macacos, em Vila Isabel.
Sobre o longo período de ocupação do Alemão por forças militares, Cabral disse que o procedimento não destoa muito das demais UPPs instaladas na cidade, guardadas as devidas proporções:
- No Complexo dos Macacos, o Bope trabalhou por mais de 50 dias até a chegada da UPP. Na cidade de deus, os oficiais de elite ficaram de três a quatro meses. Então, diante da dimensão do Alemão, a ocupação ficar por esse tempo não é nada demais. A transição será feita com as tropas do Ministério da Defesa, em vez do Bope.
O secretário José Mariano Beltrame reforçou o discurso de Cabral, dizendo que o dilatamento do prazo é uma forma de garantir o seu cumprimento:
- É uma garantia de que efetivamente vamos estar com os policiais prontos, treinados, para desenvolver o policiamento de aproximação com a comunidade. Esse foi o pedido, mas se, por ventura, acontecer algum problema, aquela comunidade não vai ficar sem polícia - enfatizou Beltrame.
Ocupação da Rocinha pode exigir ainda mais blindados
Questionado se a próxima comunidade a ser ocupada seria a Rocinha, o secretário disse que o cronograma de ocupações será mantido:
- Na Rocinha, também vamos entrar. Se tivermos que trazer gente de fora, mais equipamento blindado, mais aeronave, nós vamos trazer. Chegaremos lá assim como em outros lugares que estão planejados. Agora, tudo tem seu tempo, seu planejamento. Tudo tem um foco, um horizonte. Nós saímos fora desse foco em razão dos acidentes que aconteceram aqui. Mas conseguimos completar o planejamento com o Alemão graças às forças federais.