Título: Estudo sugere abertura de capital de elétricas
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 02/12/2010, Economia, p. 38

Lançamento de ações de subsidiárias da Eletrobras seria forma de captar até R$24 bi para investir

A abertura do capital das principais subsidiárias da Eletrobras - Chesf, Eletronorte, Furnas e Eletrosul - seria a melhor forma de o governo federal captar os recursos necessários para a expansão da geração e transmissão de energia nos próximos anos. Esta é a principal sugestão de um estudo elaborado por Marcos Severine, analista da corretora Itaú BBA. Segundo ele, o governo colocaria à venda até 49% do capital das empresas, mantendo o controle estatal.

Severine mostra que a capitalização do grupo Eletrobras seria viável via mercado de capitais com o lançamento das ações das subsidiárias na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Pelas projeções realizadas, a oferta de ações das subsidiárias da Eletrobras em Bolsa permitiria uma arrecadação de até R$24 bilhões.

- A operação praticamente dobraria o valor de mercado da Eletrobras, que hoje é da ordem de R$25 bilhões - destacou Severine.

Endividamento vai crescer nos próximos anos

O analista do Itaú BBA ressaltou que sem esse tipo de capitalização a Eletrobras terá dificuldades nos próximos anos para captar recursos para investir. Isso porque a empresa, holding do setor elétrico, vai aumentar consideravelmente nos próximos anos seu nível de endividamento com a execução de obras de grande porte, como a construção das usinas hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte.

- O país vai precisar investir cerca de R$230 milhões nos próximos cinco anos em infraestrutura, dos quais R$30 milhões em geração de energia. E a Eletrobras estará com seu nível de endividamento no limite de sua capacidade - destacou Severine.

A Eletrobras informou que não está avaliando a possibilidade de abrir o capital de suas subsidiárias neste momento. A estatal destacou, contudo, que se no futuro considerar necessário, poderá vir a analisar a possibilidade de abrir apenas o seu próprio capital.

O especialista do setor elétrico Raimundo Batista, da empresa de consultoria Enecel Energia, considerou a proposta da abertura de capital boa, embora difícil de ser executada no momento. Um dos maiores problemas para viabilizar o lançamento de ações das subsidiárias, segundo Batista, é a indefinição em relação aos atuais contratos de concessão das usinas hidrelétricas que vão vencer em 2015.

- A ideia de captar recursos com a abertura do capital das principais empresas do grupo Eletrobras é boa. Mas acredito que a indefinição em relação a esses contratos antigos de concessão vai afugentar os investidores - destacou Batista.

Grande parte das concessões de usinas hidrelétricas, a maioria operada pelas empresas do grupo Eletrobras, está vencendo a partir de 2015, e o governo federal ainda não definiu o que será feito. Isso pode significar que uma empresa como Furnas, se perder concessões, terá seus ativos reduzidos drasticamente.

Batista, no entanto, não acredita que as estatais do setor elétrico terão dificuldades em obter os recursos para investir.