Título: Setor aéreo inicia hoje operação-padrão no país
Autor: Doca, Geraldo; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 02/12/2010, Economia, p. 37

Aeronautas e aeroviários pressionam por reajuste salarial. Passageiros devem enfrentar problemas, como atrasos nos voos

Passageiros podem enfrentar novos problemas nos aeroportos do país a partir de hoje: aeronautas e aeroviários decidiram ontem iniciar uma "operação de não-colaboração", espécie de operação padrão, para pressionar as empresas aéreas a conceder um reajuste salarial maior às categorias e evitar a mudança da data-base, mês de negociação salarial. As regras aeroportuárias serão cumpridas à risca e os serviços em solo ficarão mais lentos. A previsão dos sindicalistas é que o impacto seja sentido com mais força a partir de amanhã.

- Um voo que sai de Porto Alegre, passa por Rio, Brasília e Recife, por exemplo, pode ter atrasos de uma hora e meia a duas horas por causa da operação - disse Selma Balbina, presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários.

Ela exemplificou algumas das medidas que serão tomadas: no check in, todas as malas serão pesadas individualmente, inclusive as malas de mão, que terão de ser despachadas caso ultrapassem o peso ou diâmetro legal. No pátio, os carros e tratores que levam malas, passageiros e rebocam aviões seguirão a lei e se movimentarão a 20 km/hora, em vez dos 60 km/hora comuns em alguns terminais. Já os mecânicos de manutenção cuidarão de uma aeronave por vez, em vez de até três aviões.

Selma disse que os sindicatos distribuirão cartas aos passageiros "para que eles fiquem avisados caso tenhamos de partir para outras ações", disse, referindo-se a uma possível greve.

- Estamos reclamando há muito tempo que a carga de trabalho está sobrecarregada, que as empresas não contratam mais pessoal, mas a falta de reconhecimento de nosso trabalho nesta negociação salarial foi preponderante para nossa decisão. E não descartamos outras atitudes em breve, como a greve - afirmou Sérgio Dias, que acumula o cargo de secretário de Relações Internacionais da Federação Nacional dos Aeronautas (Fentac) e secretário-feral do Sindicato Nacional dos Aeronautas.

Ele disse que a categoria pede 15% de reajuste, porém as empresas querem conceder a variação do INPC, acumulada em 12 meses, que está em 5,39%. Ele disse que os empresários querem alterar a data-base da categoria, de dezembro para março.

O Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) afirmou que a proposta de alterar a data-base visa a tirar a pressão das negociações de dezembro, mês mais pesado para o setor. O sindicato afirmou que estaria aberto a negociar novos índices em abril e que não foi informado sobre esta operação, até por entender que todos os pousos e decolagens sempre seguem padrões rígidos. O sindicato disse confiar na negociação com os trabalhadores no dia 8.

Anac libera venda de passagens da TAM

A Gol disse em nota que as negociações continuam normais e que "não acredita em motivos para que o processo deixe o caminho do diálogo e do bom senso e afirma que suas operações seguem dentro da normalidade e dos padrões de atendimento". Já a TAM anunciou que "sempre negocia condições que sejam boas para os funcionários e para a companhia. Assim, como acontece todo ano, estamos confiantes de que vamos concluir adequadamente esse processo". A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) disse que não se manifestaria sobre o assunto.

A forte procura por passagens de última hora levou a Anac a suspender a proibição de venda de bilhetes com partidas previstas para até amanhã imposta à TAM na segunda-feira. Esta fora a punição à empresa pelo volume de cancelamentos de voos acima da média do setor.

Sem a concorrência da maior empresa nacional, voos das rivais Gol, Webjet e Avianca acabaram ficando lotados em alguns destinos. Pesquisa da Anac, segundo interlocutores, revelou que na terça-feira já não havia mais oferta de assentos em trechos como Brasília-Congonhas, Brasília-Santos Dumont e Congonhas-Porto Alegre.

A normalização das operações da TAM na noite de terça-feira também pesou na decisão da Anac de suspender a punição. O objetivo da medida era evitar que mais passageiros, além dos que já tinham comprado os bilhetes, fossem prejudicados com atrasos em cascata.

Mas os pedidos de voos adicionais pela companhia permanecerão suspensos até que a Anac analise o relatório enviado ontem pela equipe de fiscalização. A TAM alegou mau tempo para o nó na sua malha.