Título: Paraquedistas sofrem retaliações em favelas
Autor: Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 02/12/2010, Rio, p. 25

Militares que moram em regiões dominadas por traficantes estão sendo ameaçados; Exército já apura o caso

Militares paraquedistas que moram em comunidades dominadas por traficantes de drogas estão sendo vítimas de retaliações por causa da atuação da corporação na guerra do Complexo do Alemão. Um dos paraquedistas, morador de uma favela da Baixada Fluminense, foi obrigado a sair de casa com a mulher e os filhos depois das ameaças de morte.

O major Fabiano Lima de Carvalho, da Comunicação Social da Brigada, confirmou que denúncias foram feitas e que o setor de inteligência do Exército está averiguando os casos.

O major disse que um dos cuidados tomados pelo Exército no planejamento da atuação na invasão do Complexo do Alemão foi de não escalar nenhum paraquedista que morasse em comunidades do complexo e também da Vila Cruzeiro.

- Mas temos muitos soldados de origem humilde que vivem em áreas carentes. Isso realmente pode estar acontecendo - disse o major.

Uma dos providências que podem ser adotadas, segundo o oficial, é que o militar fique provisoriamente alojado no quartel.

Um soldado, que pediu para não ser identificado, revelou que está com muito medo e temendo pela vida dos familiares de colegas. Ele, que tem 25 anos, está fora do combate no Alemão porque mora na região.

- Mas já fiquei sabendo de seis casos em que as pessoas estão sendo obrigadas a sair de casa com a roupa do corpo - relatou o rapaz, tremendo muito. - Nós não somos igual a policiais que têm porte de arma e podem se defender. Temos que andar desarmados e por isso ficamos indefesos.

O militar contou que alguns de seus colegas já estão dormindo no batalhão porque não podem voltar para suas casas. Segundo ele, o simples fato de ser paraquedista provoca a ira dos traficantes.

- E nós nem entramos nas comunidades durante a invasão - acrescentou.

Andando escondido e tremendo muito, o celular do militar não parava de tocar durante o período em que deu entrevista. Além da preocupação de seus familiares, ele ouvia o relato dos colegas desesperados.

- Um deles me contou que montou a sua casa com muita dificuldade. Comprou móveis, eletrodomésticos. Agora, deixou tudo para trás e não sabe o que os traficantes podem ter feito. Isso está acontecendo em várias comunidades.