Título: Drogas apreendidas são incineradas na CSN
Autor: Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 02/12/2010, Rio, p. 25

Começaram a ser destruídos ontem à tarde, a 1.500 graus, 35 toneladas de maconha e 350 quilos de cocaína

Começou ontem à tarde a incineração de 35 toneladas de maconha, 350 quilos de cocaína, 27 de crack e 1.406 frascos de lança-perfume, além de LSD, na Usina Presidente Vargas, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda. O material foi apreendido durante a ocupação recente da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão. A previsão era que a destruição fosse concluída às 5h de hoje.

Numa ação simbólica, foi incinerada, a 800 graus, parte da droga num carro-torpedo, que transporta o minério de ferro para o alto-forno 3. Um metalúrgico com roupa aluminizada jogava pacotes de maconha prensada para serem queimados no carro-torpedo. O restante do material foi destruído no alto-forno, onde é produzido o ferro-gusa, a uma temperatura de 1.500 graus.

Comboio com drogas tem segurança reforçada

Segundo o delegado Márcio Esteves, da Delegacia de Combate às Drogas (Decod), seria impossível qualquer furto de drogas, porque ele e seus policiais deixariam a usina apenas quando todo o material fosse incinerado.

- Escolhemos a usina da CSN porque queríamos um forno que destruísse todo o material apreendido ao mesmo tempo - disse Esteves.

O policial aproveitou para comemorar o sucesso da ocupação da Vila Cruzeiro e do Alemão:

- Não tivemos vítimas.

O comboio com as drogas saiu da Academia de Polícia Civil, na Cidade Nova, na capital, por volta das 12h30m de ontem, seguiu pela Linha Vermelha e pegou a Via Dutra. Dois caminhões da prefeitura do Rio, com o material, foram escoltados por dois carros da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e um da Polícia Federal, além de dois agentes em motocicletas. Segundo o delegado, a segurança foi reforçada ainda por dois helicópteros - um da Polícia Rodoviária Federal e outro da Polícia Civil.

Por volta das 15h, o grupo chegou a Volta Redonda. De acordo com o gerente de Operações dos Altos-Fornos da CSN, Cláudio Márcio Santos Araújo, a incineração das drogas com o uso do ferro-gusa não ia prejudicar a qualidade do aço produzido pela empresa. Cláudio Santos também afirmou que a destruição das drogas no alto-forno não afetou a produção da companhia ontem.

Foi a segunda incineração expressiva de drogas feita na CSN. Em 2004, foram destruídas na empresa 75 toneladas de maconha e cocaína, procedentes da Polícia Federal. O material também foi incinerado no alto-forno 3. As drogas tinham sido apreendidas ao longo dos primeiros dez meses de funcionamento da Delegacia de Polícia Federal de Volta Redonda, nas estradas e nas cidades do Sul Fluminense. Na época, foram necessários quatro dias para que toda a carga fosse queimada. O então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, esteve na empresa na ocasião.

Moradores de Volta Redonda aprovaram a iniciativa do chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, de usar um dos altos-fornos da CSN para incinerar toneladas de drogas apreendidas pelas forças de segurança na Vila Cruzeiro e no Alemão.

Algumas pessoas chegaram a acreditar que iam sentir o cheiro da maconha quando a erva estivesse sendo queimada e a fumaça fosse lançada pelas chaminés da empresa. A assessoria de imprensa da CSN, no entanto, informou que isso não aconteceria. Segundo um assessor da CSN, as drogas são queimadas a uma temperatura tão alta - 1.500 graus -, que as propriedades da erva são destruídas.

Morador diz temer migração de bandidos

A atendente Rosely Fortunato, de 36 anos, elogiou o trabalho da polícia:

- É uma satisfação saber o destino que estão dando a esse material apreendido.

Outros moradores diziam ter medo que criminosos da capital fossem para Volta Redonda.

- Tenho receio de que bandidos tenham vindo para a cidade na tentativa de recuperar o material e acabem ficando e praticando ataques, semelhantes aos do Rio, para se vingar da incineração. Mas, sem dúvida, é uma forma de a polícia mostrar quem manda e que as drogas não valem nada - disse Rodrigo de Freitas, de 32 anos, técnico em manutenção de computadores.