Título: Corregedoria já recebeu 27 denúncias de abusos
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 02/12/2010, Rio, p. 22

A Corregedoria Geral Unificada (CGU) da polícia recebeu, desde segunda-feira, 27 denúncias de maus-tratos e abusos praticados por agentes das forças de segurança que ocupam o Complexo do Alemão. A maioria delas trata de casos em que os agentes entraram nas residências sem mandado judicial, xingaram os moradores e reviraram objetos das casas, causando bagunça e incômodo.

Em um dos casos, cinco policiais militares do 7º BPM (Alcântara) são acusados de destratarem moradores e quebrarem objetos em um conjunto da Rua Josi Costa, na altura da Favela Nova Brasília. Duas irmãs denunciaram o caso à CGU. Quatro acusados se apresentaram no fim da noite e foram levados para a 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM), onde negaram as agressões.

- Bateram no meu braço com um cabo de vassoura, me xingaram na frente de meus dois filhos, fizeram uma bagunça danada. Disseram que eu escondia ouro de Carlinhos, Adriana e Barão. Eu não conheço essas pessoas. Um deles estava falando no celular com um X-9 chamado de Foca - contou uma moradora, no momento em que peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) buscavam digitais em sua casa.

Mãe de chefe do tráfico pede que o filho se entregue

Josefa Martiniano, mãe de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, um dos chefes do tráfico no Alemão, fez um pedido para que o filho se entregue e disse que, se estivesse com ele agora, o levaria pelo braço até a polícia. Ontem, ela pôs um texto na porta de sua casa, informando que o local foi revistado mais de 15 vezes por policiais e reclamando da bagunça.

Ontem, a PM pôs em circulação nas favelas do Alemão um veículo com sistema de som pedindo o apoio dos moradores e pedindo que eles denunciem abusos de policiais e o o paradeiro de criminosos, drogas e armas pelos telefones 2334-7457 ou 2334-7411. O anonimato é garantido.

Outra denúncia à CGU foi feita pela comerciante Edna Maria de Oliveira, de 56 anos, dona de um bar na Rua Antônio Rego, um dos acessos à Pedra do Sapo. Ela esteve no 16º BPM (Olaria), onde registrou o caso na base da corregedoria instalada na unidade.

- Policiais do 16º vieram aqui e fizeram uma bagunça no bar. Disseram que eu era uma safada e que tinham fotografia minha com traficantes. Eu quero ver esta foto. Nunca fiz coisa errada e não é agora, depois de velha, que vou dar mole.

Cerca de 30 moradores da Pedra do Sapo fizeram um protesto na frente da Rua Joaquim de Queiroz contra supostos abusos por parte de policiais. Entre eles, a neta de Edna, Gabriele de Oliveira Saraiva, de 20 anos, muito revoltada.

Na entrada da Rua Joaquim de Queiroz, uma fila se formou ao lado do ônibus da ouvidoria. Segundo o ouvidor, o procurador de Justiça, Luiz Sérgio Wigderowitz, as pessoas ainda tem medo de denunciar os abusos dos policiais dentro da favela. Ele aconselhou aos moradores a anotar todos os dados quando sofrerem abusos. Informações como dia, hora, nome do policial e se puder até mesmo o carro que ele estava e a unidade a que pertence:

- Todos os dados que o morador tiver para denunciar o mal policial irão nos ajudar. Só podemos punir o policial com provas.