Título: Caçada na Floresta da Tijuca
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 02/12/2010, Rio, p. 22

Polícia busca traficantes do Alemão que se refugiaram na mata após invadirem casa

Um dos chefões do tráfico no Complexo do Alemão - possivelmente o próprio Fabiano Atanázio da Silva, o FB - e pelo menos mais seis comparsas, estão sendo procurados por policiais federais e militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) nas matas da Floresta da Tijuca, na Gávea Pequena, Zona Sul. Os bandidos passaram a ser caçados na floresta na tarde de ontem depois de invadirem uma casa na Estrada da Vista Chinesa, fazerem quatro reféns e fugirem. O local, próximo da residência oficial do prefeito Eduardo Paes, é um dos caminhos para a Favela da Rocinha.

Uma das vítimas, um perito da PF do Rio lotado na Superintendência do Rio, foi rendido, encapuzado e ficou sob a mira das armas durante mais de cinco horas. O cerco da polícia ao local começou depois que um colega do perito telefonou para a casa. Fingindo-se um gerente de banco, ele conseguiu falar com o refém que, usando um código, informou ao colega da situação.

- Ficamos preocupados na PF depois que uma parente do perito ligou buscando notícias. Resolvi ligar para o celular do policial e achei estranho quando um homem atendeu. Percebendo algo estranho, disse ao traficante que era um gerente de um banco. O bandido acreditou, passou o telefone para o perito e nós ficamos conversando em código - afirmou o outro perito da PF do Rio.

FB estaria entre os invasores

Quando descobriu que se tratava de uma invasão, o policial que estava na sede da PF comunicou o caso ao comando da corporação no Rio, que acionou os agentes do Comando de Operações Táticas (COT) da PF e o Bope. Vários policiais foram deslocados para o local, mas os bandidos conseguiram escapar - quatro fugiram às pressas, usando a picape do perito e três correram para a mata -, provavelmente com a cobertura de outros bandidos. O carro não foi localizado ainda.

A invasão da casa do perito federal começou por volta das 3h. Sete homens armados com pistolas - um deles ferido com um tiro na perna - entraram no imóvel, pulando um muro. Renderam primeiro a caseira e ficaram esperando o dono. Por volta das 8h, três pedreiros chegaram à casa para trabalhar numa obra. Também acabaram dominados, amarrados e encapuzados. Somente às 11h, o perito chegou para receber o material da obra e foi rendido também.

- O perito foi dominado. Todos os bandidos estavam armados com pistolas. Diziam que queriam dinheiro, remédios para tratar de comparsas que estariam feridos na mata e comida. Estavam famintos - afirmou um delegado federal que participa das investigações.

Um dos criminosos seria o traficante Fabiano Atanásio da Silva, o FB, chefe do tráfico na Vila Cruzeiro e no Morro do Alemão, que foram ocupados por forças federais e estaduais. Ele estava ferido, com um tiro na perna. Ainda segundo relato do perito, os bandidos tratava um deles como chefão e falaram que iriam precisar da picape para socorrer outros comparsas que, refugiados na floresta, estariam feridos, com fome e sede.

A invasão do Complexo do Alemão começou na quinta-feira, com a tomada da Vila Cruzeiro. Os bandidos correram para o Morro do Alemão. No domingo, foi a vez de todo o Complexo ser invadido pelas forças policiais. Do Alemão até a vista Chinesa são cerca de 27 quilômetros. Especula-se que os traficantes da Vila Cruzeiro estariam tentando chegar à Favela da Rocinha, em São Conrado. Os chefes da Rocinha e do Alemão teriam selado um acordo de paz para enfrentar a expansão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o que é negado pela cúpula da Secretaria de Segurança.