Título: Em 3 décadas, mais dez anos de vida
Autor: Tinoco, Dandara
Fonte: O Globo, 02/12/2010, O País, p. 10

Brasileiro já vive 73,17 anos, mostra IBGE; mortalidade infantil segue em queda

A expectativa de vida dos brasileiros ao nascer aumentou quase onze anos em três décadas, mostra a pesquisa Tábuas Completas de Mortalidade 2009, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 1980 e 2009, a esperança de vida ao nascer variou entre 62,57 e 73,17 anos. Em relação a 2008, quando era de 72,86, o crescimento foi de três meses e 22 dias. Já a expectativa de vida de um brasileiro de 60 anos passou de 81,16 anos em 2008 para 81,27 em 2009.

As mulheres continuam a ter maior expectativa de vida do que eles. Em 2009, a esperança de vida masculina foi de 69,42 anos. Já para as mulheres, a média foi de 77,01 anos.

Desde 1999, o estudo do IBGE é usado pelo Ministério da Previdência no cálculo da aposentadoria. A esperança de vida é um dos parâmetros para determinar o fator previdenciário, que leva em conta ainda o tempo de contribuição e a idade do segurado. A fórmula matemática foi criada para aliviar os cofres da Previdência, já deficitária.

Mesmo benefício por 41 dias a mais de trabalho

O fator previdenciário de alguém com 55 anos de idade e 35 de contribuição, por exemplo, passou de 0,723 para 0,720, entre 2008 e 2009, segundo a nova tabela divulgada pelo Ministério da Previdência. Considerando que esse homem tenha contribuído sobre uma base de R$2.500, o valor recebido passou de R$1.807,50 para R$1.800, uma perda de 0,41%. Ele poderia optar também por receber a mesma aposentadoria, trabalhando 41 dias a mais. A nova tabela incide nos benefícios requeridos a partir de ontem.

A alteração na tabela surpreendeu o encarregado de almoxarifado Fernando de Andrade, de 54 anos. Com 26 anos de trabalho, ele quer se aposentar:

- Acho que vou morrer antes de parar de trabalhar. Ou então a aposentadoria vai dar só para comprar o caixão.

Gerente da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, Juarez de Castro Oliveira lista os fatores que têm contribuído para o aumento da esperança de vida no Brasil:

- O país não avançou tanto quanto deveria, mas teve progressos em saneamento básico, aumento da escolaridade, maior disseminação e melhoria do sistema de saúde e percepção da população com relação a certas enfermidades, antes tratadas de forma caseira.

A taxa de mortalidade infantil segue em progressiva queda. Em 1980, era de 69,12 óbitos para cada mil nascidos vivos. Em 2009, passou para 22,47. Em 2008, era de 23,30. Apesar da redução, o Brasil ainda fica atrás de países como Argentina, México, Venezuela e Colômbia.

O estudo destacou também a participação de mortes violentas entre os jovens. Em 2009, 61,29% das mortes de pessoas entre 20 a 24 anos foram provocados por fatores externos (homicídios e acidentes de trânsito, entre outros). Na faixa de 15 a 19 anos, responderam por 60,29% do total. O percentual fica em 52,71% entre 25 e 29 anos. A partir dos 30, as causas naturais passam a ser a principal razão dos óbitos. A maior parte das mortes violentas é de homens. Na faixa de 15 a 19 anos, por exemplo, 87,35% desses óbitos foram de garotos.

- Esperamos que essa tendência se reverta. Se continuar, pode atingir níveis insustentáveis - analisa Oliveira.