Título: Dilma decide pôr superexecutivo na Infraero
Autor: Carvalho, Jailton de; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 06/12/2010, O País, p. 4

Decisão cria nova área de atrito da presidente eleita com PMDB, que cobiça a estatal responsável por aeroportos

BRASÍLIA. Mais um ponto de atrito está surgindo na já desgastada relação do futuro governo com o PMDB e com o ex-ministro Geddel Vieira Lima, do PMDB baiano. A Infraero, foco permanente de denúncias de corrupção e uma das mais cobiçadas estatais do país, pelo volume de verbas que movimenta, está fora da partilha política e, portanto, sem chance de ser entregue a um peemedebista, como quer o partido.

A presidente eleita, Dilma Rousseff, decidiu que vai chamar um superexecutivo do mercado para comandar a empresa encarregada de preparar os aeroportos brasileiros para a Copa do Mundo de 2014. Ela deverá criar a Secretaria de Aviação Civil, que terá a atribuição de comandar a Infraero, cujo orçamento para 2011 é de R$1,2 bilhão.

Novo secretário terá que tornar estatal eficiente

Hoje, a presidente Dilma e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, se reúnem para tratar do assunto. A ampliação e o reforço da segurança nos aeroportos brasileiros com vistas à Copa e, depois, às Olimpíadas de 2016, são dois dos maiores desafios do governo. A presidente eleita espera encontrar um técnico que desate os nós da eterna ineficiência da estatal.

Para integrantes da equipe de transição, muito mais do que as denúncias de corrupção, os problemas da Infraero são resultado de falhas na administração e do grande aparelhamento político nos últimos anos.

Mas a procura pelo executivo ideal não é uma tarefa fácil. Integrantes da transição acham que os salários pagos pelo governo não são nada atraentes, ainda mais para executivos bem-sucedidos. Em geral, executivos aceitam convites para o governo sabendo que, no futuro, poderão voltar ao mercado com passe ainda mais valorizado. No setor financeiro, essa é uma alternativa real. Quase todos os ex-integrantes de equipes econômicas retornaram ao mercado com sucesso.

Auxiliares de Dilma chegam até a citar os casos do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e do ex-presidente da instituição Armínio Fraga. Os dois deixaram a iniciativa privada, onde tinham elevada remuneração, para atuar no serviço público.

Depois de deixar o BC, Armínio ampliou seus negócios e, certamente, recuperou as perdas financeiras que teve no período em que estava no governo. Pela credibilidade internacional conquistada, Meirelles pode sonhar ainda mais alto. Antes da campanha, ele chegou a pensar em se candidatar a presidente da República.

Geddel tem influência sobre parte do PMDB

Este tipo de promoção pessoal não é automática no caso da infraestrutura e da Infraero. Nem todos os executivos que se destacam no setor têm garantia de sucesso no retorno à iniciativa privada.

A disputa em torno da Infraero tornou-se mais acirrada porque o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, derrotado nas eleições ao governo da Bahia, decidiu pleitear o comando da estatal na divisão de cargos entre PT e PMDB para a formação do governo Dilma. Geddel ainda tem influência em parcela considerável do PMDB.

A ideia de Dilma de criar a Secretaria de Aviação Civil está dentro do propósito de profissionalizar a Infraero. A pasta, que será desvinculada do Ministério da Defesa, administraria a aviação comercial. O setor tem crescido de forma exponencial nos últimos anos e a estrutura existente, abrigada na Defesa, não tem tido força suficiente para responder às crescentes demandas de passageiros e empresas. A área é estratégica nesta fase de preparação para a Copa e as Olimpíadas de 2016. O ministro Nelson Jobim concorda com a mudança.

- O Jobim quer sossego para tocar os assuntos específicos da Defesa - afirmou um petista que mantém linha direta com Dilma.