Título: Construtoras deram R$252 milhões a políticos
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 03/12/2010, O País, p. 12

Valor doado nas eleições é inferior ao que grandes empreiteiras receberam este ano do governo federal: R$813 milhões

SÃO PAULO. As principais empreiteiras do país gastaram nestas eleições, com doações a candidatos e a partidos políticos, o equivalente a um terço de todos os recursos que receberam do governo federal este ano. As construtoras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Odebrecht, OAS e Construcap distribuíram R$252,3 milhões, de julho a novembro, para campanhas eleitorais em todo o país. Até ontem, elas haviam recebido do governo Lula R$813,2 milhões por obras e serviços prestados em 2010.

O cruzamento entre os dados da Justiça Eleitoral e do sistema de acompanhamento de gastos da União mostra que a contribuição eleitoral dessas empreiteiras foi proporcional aos recursos que obtiveram dos cofres públicos. As três maiores doadoras nestas eleições - Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão - são também as que mais receberam dinheiro da União neste ano. O trio abocanhou R$695,8 milhões, ou 86% de tudo o que foi pago pelo governo federal às seis construtoras. Na hora de ajudar políticos na eleição, também foram as mais generosas, doando 91% do total distribuído pelas maiores empreiteiras do país.

A Camargo Corrêa foi quem mais gastou com campanhas: R$102,7 milhões. Na sequência, aparecem a Queiroz Galvão (R$65,6 milhões), Andrade Gutierrez (R$61,8 milhões), OAS (R$8,8 milhões), Construcap (R$7,5 milhões) e Odebrecht (R$5,9 milhões).

O leque de beneficiários dessas contribuições é bastante diversificado, assim como o valor da ajuda. Por trás dessa pulverização de recursos, está a estratégia de manter um bom relacionamento com o maior número de partidos, dos menores aos mais representativos.

Campeã de gastos, a Camargo Corrêa fez doações de R$10 mil a R$5 milhões para mais de cem candidatos a deputado estadual e federal, senador e governador. O comitê da presidente eleita, Dilma Rousseff, e o PT foram os maiores beneficiários dessas doações, ficando com R$13 milhões - quase o triplo do valor repassado para a campanha do tucano José Serra.

Empreiteiras são alvo do TCU e do Ministério Público

O grupo de elite da construção civil frequenta os relatórios das instituições fiscalizadoras de obras públicas no país, como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público.

Em abril deste ano, uma auditoria do TCU concluiu que uma subsidiária da Petrobras pagou ilegalmente R$56,9 milhões a consórcios formados pelas construtoras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e OAS, na construção do gasoduto Urucu-Manaus, uma das mais caras obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Na prática, as empresas ofereceram um preço e, após a execução, cobraram outro. Segundo os auditores, o fato seria legal se houvesse justificativa para a diferença, o que, concluíram, não ocorreu.

Em 2009, a Odebrecht foi condenada pelo TCU por fraude num contrato para a manutenção de plataformas de petróleo na Bacia de Campos, no Rio. Uma auditoria concluiu que a empreiteira superfaturou um aditivo assinado em dezembro de 2002.

No mesmo ano, a Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, levou executivos da Camargo Corrêa à prisão. Foram investigadas denúncias de fraudes em concorrências, superfaturamento de contratos e pagamento de propina. Uma planilha apreendida sugere que a construtora teria doado R$4 milhões, por meio de caixa dois, a partidos. A investigação está suspensa por decisão do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Cesar Asfor Rocha.