Título: Relator do Orçamento é denunciado
Autor:
Fonte: O Globo, 06/12/2010, O País, p. 10

Senador Gim Argello é suspeito de destinar verbas a empresas fantasmas

BRASÍLIA. O relator do Orçamento-2011, senador Gim Argello (PTB-DF), poderá ser investigado por seus colegas, dispostos a averiguar denúncias de que teria destinado verbas orçamentárias para entidades fantasmas. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) defendeu ontem que as suspeitas sejam apuradas por órgãos da Câmara e do Senado. Argello é suspeito de destinar R$3 milhões em emendas próprias para empresas de fachada. Segundo Dias, a aprovação do primeiro Orçamento do governo Dilma Rousseff poderá atrasar diante dos fatos novos.

- Neste caso, vale uma verificação dos fatos, independentemente de quem seja. A Comissão de Orçamento continua um foco de suspeitas de desvios de recursos públicos - disse Dias, lembrando os sucessivos escândalos de corrupção envolvendo o Orçamento nos últimos anos.

Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", Gim Argello, líder do PTB no Senado, apresentou emendas ao Orçamento deste ano para os ministérios do Turismo e da Cultura, reservando recursos públicos para promoção de eventos culturais no Distrito Federal. Em seguida, o senador enviou correspondências ao ministro da área pedindo a liberação de verbas, destinadas a uma instituição de fachada, com endereços falsos. Os recursos eram repassados para uma suposta empresa de promoção de eventos ou marketing, em nome de laranjas, cujos sócios são um mecânico e um jardineiro.

Gim Argello não foi encontrado ontem pelo GLOBO. Ao "Estado de S. Paulo", ele negou as acusações, dizendo que faz emendas pelo mérito dos projetos e não em razão das entidades que os executam. O jardineiro Moisés da Silva Morais, morador da periferia de Brasília, admitiu ser laranja de uma empresa de marketing que receberia os recursos orçamentários.

Segundo membros da Comissão de Orçamento, no de 2011 já foram feitas várias restrições para concessão de verbas a eventos festivos, principalmente os ligados ao Ministério do Turismo.

- Seguramente, com base na denúncia, vamos ficar ainda mais de olho no trabalho do relator - disse um deputado.

Ex-corretor de imóveis e vendedor de carros, Argello foi, por nove anos, deputado distrital de Brasília. Seu currículo é recheado de denúncias por envolvimento em crimes, principalmente na área fundiária. Até agora, escapou ileso. Entrou no Senado em 2007, sem um único voto, com a renúncia de Joaquim Roriz (PSC). Quase não assumiu, ao ser investigado pelo escândalo que abateu o titular, mas escapou de processo no Conselho de Ética pelas mãos do então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em poucos anos, Argello passou a ter crescente influência dentro do governo.