Título: Em alta, de novo
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 06/12/2010, Economia, p. 22

Das duas, uma: ou o Copom (Comitê de Política Monetária) elevará a taxa básica de juros já na reunião de quarta-feira ou indicará em sua ata que a tendência é de aperto. As autoridades do Banco Central estão sendo obrigadas a mudar o discurso para neutralizar o ambiente negativo que se formou no mercado financeiro em relação à trajetória da inflação.

As expectativas se deterioraram em decorrência de recentes índices de preços, que vieram bem ruins - em especial os IGPs da Fundação Getulio Vargas, beirando 1,5% ao mês - o que torna inevitável que a inflação feche o ano acima de 5,5%, distanciando-se do centro da meta (4,5%).

Não dá para remar contra a maré, mas o tamanho do ajuste nas taxas de juros que o mercado anda apostando talvez não venha a ser necessário. Os meses de janeiro e fevereiro foram de forte alta da inflação e isso não deverá se repetir em 2011. Nesse caso, é bem possível que os índices acumulados em 12 meses apresentem um recuo no início do ano que vem, o que é incomum. Mas para que tal quadro se concretize o Banco Central agora precisa jogar água fria no crédito, o que já começou a fazer com a decisão de aumentar a parcela de depósitos que os bancos terão de transferir compulsoriamente para a guarda das autoridades monetárias. Sobrarão menos recursos para empréstimos, porém não se espera que falte crédito. O dinheiro ficará mais caro, principalmente para quem usa cheque especial (clientes pessoas físicas) ou crédito rotativo (empresas ou cartões de crédito). A partir de abril, até mesmo o financiamento para investimentos, via BNDES, perderá um pedaço dos atuais subsídios.

Se, por um lado esse aperto poderá ser benéfico para segurar a inflação em patamar abaixo de 5% ao ano, por outro - como tudo em economia - terá também efeitos negativos. Pesará sobre a dívida pública (o estado é o maior devedor do país) e o real voltará a se valorizar pela atração de capitais financeiros externos, prejudicando exportações, insuflando importações e o turismo de compras ao exterior.

Os mercados só vão se acalmar quando surgirem no horizonte dados que confirmem a mudança prometida no comportamento das finanças públicas. Superávits primários minguados ou contábeis hoje alimentam as expectativas pessimistas sobre os índices de inflação.

A economia continuará a crescer e todos esperam que a arrecadação se expanda mais que o Produto Interno Bruto (PIB). Acima da média, portanto. Nesse contexto, não será tão doloroso que a política fiscal possa dar contribuição relevante para o esforço de combate à inflação. Basta que os gastos aumentem em ritmo mais brando.

O campo de Peregrino, que será operado pela Statoil, companhia norueguesa, na Bacia de Campos, é um bom exemplo de como é positivo que o país tenha várias companhias atuando no setor. A Petrobras se desinteressou pelo campo porque preferia investir em outras áreas onde pudesse encontrar óleo mais leve. Peregrino acabou assumido por uma empresa canadense (EnCana), que depois o repassou para a americana Anadarko. Esta, por sua vez, vendeu 50% do bloco para uma empresa norueguesa que foi absorvida pela Statoil, e por tal fatia foram pagos US$300 milhões. Pelos 50% restantes a Statoil acabou pagando US$1,1 bilhão à Anadarko.

A recuperação do óleo contido em Peregrino era inicialmente previsto em apenas 10% do reservatório. A Statoil conseguiu dobrar tecnicamente a proporção esperada e é possível que avance um pouco mais, chegando a 23% ou 26%. Com isso, o campo foi se valorizando no mercado e a Statoil vendeu 40% de Peregrino para uma companhia chinesa por mais de US$3 bilhões.

No ano que vem Peregrino começa a produzir cem mil barris de petróleo por dia. Antes que uma gota de óleo fosse extraído gerou muitos negócios e a cada transação recolheu-se impostos no Brasil.

É curioso, mas durante os dias que antecederam a operação de "retomada" do Complexo do Alemão pelas forças policiais e militares, a ocupação na rede hoteleira do Rio, que se concentra na Zona Sul, no Centro e na Barra da Tijuca (em áreas não tão próximas à região diretamente afetada pelo confronto com os traficantes) não sofreu alteração. Álvaro Bezerra de Mello, ele próprio hoteleiro e presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), seção RJ, fez levantamentos diários e não constatou alterações.

O metrô e as linhas de trens suburbanos respondem atualmente por cerca de 12% do transporte de passageiros no Rio. Com a expansão dos dois sistemas e mais os BRTs, que serão corredores para ônibus articulados com baixa emissão de gases poluentes - na prática funcionarão como metrô de superfície - a matriz de transporte de passageiros considerada limpa saltará para 43% até os Jogos Olímpicos de 2016.

O extremo sul da Argentina foi uma agradável surpresa. Devia ter me programado para passar mais alguns dias por lá. Qualquer hora conto mais no blog, se o noticiário econômico der uma trégua (o que é improvável, pelo que está acontecendo na Europa, e também por aqui, em relação ao combate à inflação e à formação da equipe do novo governo).

A emenda Ibsen/Simon sobre os royalties do petróleo é ruim sob qualquer ponto de vista, pois provoca querelas intermináveis (nos planos jurídico, tributário, político, federativo etc.). Dentro de poucas semanas teremos uma nova presidente, novos governadores, novos deputados e senadores. É sentar à mesa e se buscar uma solução que aumente a fatia dos não produtores, mas que não ignore a realidade dos atuais estados e municípios confrontantes às áreas de produção de óleo e gás no mar.