Título: Para presidente do BC, agências deveriam melhorar nota do Brasil
Autor: D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 07/12/2010, Economia, p. 24
Meirelles diz que nível de endividamento é inferior ao de países europeus
SÃO PAULO. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reclamou ontem que as condições macroeconômicas do Brasil, particularmente a relação entre dívida pública e o PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos ao longo de um ano), permitem ao país ter uma melhora na avaliação de risco de crédito feita pelas agências de classificação. O Brasil foi elevado a grau de investimento (ou seja, considerado de baixo risco) pelas agências Standard & Poor"s (S&P) e Fitch, em 2008, e ganhou a mesma classificação da Moody"s, no ano seguinte. Desde então, a nota do país não foi alterada.
- Se fizermos uma comparação do endividamento do Tesouro como proporção do PIB em relação a diversos países, principalmente aqueles que estão enfrentando problemas fiscais, inclusive alguns europeus, vemos que o rating do Brasil está um pouco abaixo do que poderia ou deveria ser - repetiu Meirelles em pelo menos dois dos três eventos de que participou ontem em São Paulo.
O presidente do BC citou os casos de Irlanda, Portugal e Itália, que têm, respectivamente, relação dívida bruta/PIB de 65%, 77% e 116%, e notas de risco da S&P A, A- e A. Já o Brasil, com endividamento bruto de 60% do PIB, é classificado como BBB -.
- Evidentemente, eu olho isso com otimismo. É uma situação promissora - disse Meirelles, reforçando que, como o país melhora seus fundamentos gradualmente, o "reconhecimento disso pelas agências avaliadoras é apenas uma questão de tempo".
No seminário "Reavaliação do Risco Brasil", promovido pelo Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas, Meirelles chegou a brincar sobre o tema com a presidente da S&P no Brasil, Regina Nunes.
- Não é que ele queira uma revisão do rating. Ele vê que o Brasil representa menos risco a longo prazo - minimizou Regina, após o seminário.
Para presidente da S&P, comparação não é adequada
Segundo ela, a comparação do Brasil com Irlanda, Portugal e Itália, como fez Meirelles, não é "adequada", uma vez que esses países estão sob observação negativa da agência por causa dos sérios problemas fiscais que enfrentam. O ideal, disse, é colocar o país ao lado de economias como China, Índia e Coreia do Sul. E, diante desses emergentes, o Brasil tem uma relação dívida/PIB mais elevada.
- O Brasil tem de refinanciar 25% de sua dívida anualmente, e isso é pesado. O ponto-chave da política monetária é o timing, e o país tem feito bem isso, e o de política fiscal é o longo prazo. Nesse aspecto , o país tem de voltar a ter políticas mais rígidas, que assegurem superávit superiores a 3% - disse Regina.