Título: Preciso da ajuda de um papel
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 08/12/2010, O País, p. 4

Em Alagoas, aluno do 3º ano não sabe dividir 8 por 4

MACEIÓ. Evanildo da Silva Costa, de 18 anos, cursa o 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Tavares Bastos, em Maceió. Ele não sabe como conseguiu chegar tão longe. O jovem, que sonha em cursar educação física, não sabe uma simples conta de dividir.

- Quanto é oito dividido por quatro?

- Não sei, preciso da ajuda de um papel - disse o estudante, que fez o vestibular da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e espera pelo resultado, que sairá em janeiro.

- Não sei como passei de ano. Algumas vezes, colei nas provas de matemática. Não entra na minha cabeça. É difícil.

Evanildo é o retrato das estatísticas. Levantamento do Pisa mostra que Alagoas está na lanterna quando o conhecimento avaliado é em matemática, leitura e ciências.

A Escola Estadual Tavares Bastos, onde Evanildo estuda, é considerada uma das melhores e mais disputadas do estado, modelo de inclusão de jovens com deficiência de aprendizado, como autistas e surdos-mudos. Com 24 anos de profissão, a diretora da escola, Rosa Maria Lemos Barbosa, diz acreditar que o mau desempenho dos alunos alagoanos pode ser explicado por problemas como a falta de merendeira nas escolas:

- Os alunos chegam à escola com fome. E ao tentar estudar, vem logo o sono, a dor de cabeça e a dificuldade de aprender. Minha escola só tem duas merendeiras para 400 refeições por dia, juntando os três horários em que funciona. Dando condições aos alunos, escolas em tempo integral e amor, principalmente amor, nós sairemos do último lugar, com o pior ensino do Brasil - disse.

No ano passado, nenhum aluno da Tavares Bastos conseguiu entrar na universidade. Thiago Correia, de 17 anos, gosta de ler, mas admite que a escola não dá uma formação completa. Filho de camelôs, ele tenta passar para a faculdade de ciências contábeis, mas, para isso, fez um cursinho pré-vestibular. Lá, ele conheceu os textos do escritor alagoano Graciliano Ramos.

- Tem muita gente com dificuldade em leitura e matemática. Eu sei. Por isso, acredito que a solução são as escolas em tempo integral. Não há como pensar diferente - opinou.