Título: Punido, só nas ruas
Autor: Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 16/07/2009, Política, p. 6

Absolvido pelo Conselho de Ética, o deputado Edmar Moreira não escapa de críticas de eleitores brasilienses

O parlamentar, atualmente sem partido, ficou famoso pelo enorme castelo não declarado à Receita Federal em Minas

A estudante Patrícia Lage, de 39 anos, está a passeio em Brasília. Ela nasceu no estado de Minas Gerais, no município de São João Nepomuceno, a 70 quilômetros de Juiz de Fora. Desde fevereiro, acompanha sucessivos escândalos que têm como ilustração máxima um monumento que viu diversas vezes em passeios por sua cidade natal. Um castelo, que ela descreve como ¿suntuoso¿, e cuja construção iniciou-se em 1982 e está inacabada. São 7,5 mil metros de área construída que povoaram o imaginário da população do pequeno município mineiro e hoje são sinônimos do descrédito na política nacional e da conivência com a corrupção, na avaliação de Patrícia. Ela relaciona o castelo a seu idealizador, o deputado Edmar Moreira (sem partido-MG), absolvido ontem pelo Conselho de Ética da Câmara, após ter confessado que usou dinheiro público para pagar as próprias empresas.

¿Eu passava todos os dias pelo castelo e me perguntava como é possível admirar uma coisa daquelas, quando em volta há tanta pobreza. No Brasil nada funciona. Ele (o deputado Edmar Moreira) não foi o primeiro e nem será o último a ser inocentado pelos colegas¿, opinou. A opinião de Patrícia se junta à de outros eleitores, que usaram expressões como ¿desacreditados¿ e ¿coniventes com a corrupção¿ para classificar a atuação dos parlamentares do Congresso. ¿Não adianta um país ter dinheiro e não ter ética¿, concluiu Patrícia, conterrânea de Moreira.

Após a aprovação do relatório do deputado Sérgio Brito (PDT-BA), que recomendava a absolvição de Moreira no Conselho de Ética, o Correio foi às ruas. A ideia era ouvir a tal ¿opinião pública¿, renegada pelo deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), integrante do colegiado favorável à absolvição do deputado mineiro, ao lado de oito parlamentares (veja quadro).

O resultado da enquete retrata a descrença da população em seus representantes, e que são poucos os eleitores que ainda fazem diferenciação entre a atuação de parlamentares. Para quem vota, está tudo na vala comum, a corrupção e a política. ¿Tem mais é que absolver mesmo. O pessoal do mensalão não está a salvo, o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros, não está lá ainda? E o Sarney, não está se segurando? Nem o Conselho de Ética, nem os parlamentares têm moral para julgar ninguém¿, diz Adelson Rocha, 43 anos, que é servidor público.

Sintomático Para os entrevistados, o caso de Edmar Moreira é sintomático. Uma prova de que o espírito corporativo dos parlamentares fala mais alto que os apelos da população. ¿Eles não pensam no povo, pensam na amizade entre eles¿, acredita o motorista de ônibus Paulo Barcelos, 39. E se engana quem pensa que o eleitorado só faz críticas. ¿Quem poderia mudar isso é o eleitor, mas um eleitor inteligente. Só que os políticos não têm interesse nisso. O sistema, como um todo, está falido¿, opinou Gilvam Mota, 29, autônomo.

Quem absolveu

» Mauro Lopes (PMDB-MG) » Nelson Meurer (PP-PR) » Sérgio Moraes (PTB-RS) » Urzeni Rocha (PSDB-RR) » Abelardo Camarinha (PSB-SP) » Sérgio Brito (PDT-BA) » Lúcio Vale (PR-BA) » Paulo Piau (PMDB-MG) » Willian Woo (PSDB-SP)