Título: Dilma confirma Palocci, Cardozo e Carvalho; PMDB continua à espera
Autor: Lima, Maria; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 04/12/2010, O País, p. 4

Tentativa de rebelião na base do principal aliado adia anúncio do nome de Lobão

BRASÍLIA. O PMDB perdeu. A presidente eleita, Dilma Rousseff, e os negociadores da transição responderam ontem com dureza a uma tentativa de rebelião da cúpula do partido para conseguir cinco, e não quatro, ministérios no futuro governo. A tentativa de rebelião esvaziou o anúncio dos novos ministros, ontem, e impediu a oficialização do primeiro ministro do PMDB, o senador Edison Lobão (MA) para o Ministério de Minas e Energia. Por meio de nota, Dilma confirmou oficialmente mais três ministros petistas: Antonio Palocci (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Gilberto Carvalho (Secretaria-geral da Presidência).

O principal aliado segue, mais de um mês depois da eleição, sem nenhum ministro anunciado, contra seis do PT. A presidente eleita já havia formalizado as nomeações de Guido Mantega (Fazenda), Alexandre Tombini (Banco Central) e Miriam Belchior (Planejamento). Cardozo é o primeiro ministro considerado uma escolha pessoal de Dilma Rousseff. Os demais foram sugeridos por Lula.

Insatisfeito com o espaço oferecido, o PMDB, numa estratégia decidida em reuniões que entraram pela madrugada, decidiu que os nomes do partido só seriam anunciados juntos, num mesmo pacote.

Mas no final do dia, os negociadores peemedebistas, o vice-presidente eleito, Michel Temer, e o presidente do Senado, José Sarney, tiveram que aceitar a oferta de Dilma, com apenas quatro pastas: Previdência, Ministério de Minas e Energia (MME), Turismo e Agricultura. Setores do partido ainda vão insistir num quarto ministério até segunda-feira.

PMDB perde Comunicações

No governo Lula, o PMDB comandou, além de Agricultura e MME, os ministérios da Integração Nacional e das Comunicações, que vão agora para as cotas do PSB e PT, respectivamente.

Na Granja do Torto, o gesto do PMDB de impor condições para a confirmação dos ministros já acertados foi interpretada como uma ameaça. Um interlocutor da presidente eleita afirmou, ao longo do dia de ontem, que ela não aceitaria ser colocada contra a parede pelos peemedebistas.

Integrantes da equipe de transição tentaram até o último momento que o PMDB voltasse atrás na sua decisão para anunciar pelo menos o nome do senador Edison Lobão, que na véspera havia sido convidado pela própria Dilma para voltar ao posto já ocupado no governo Lula. O outro ministro acertado é da Agricultura, Wagner Rossi. Mas não houve acordo.

Para Dilma, o acordo está fechado com o PMDB. Mas o grupo de Temer continuará tentando um quinto ministério até segunda-feira, para acomodar Moreira Franco.

- O que se discute agora não é o número de ministérios que o PMDB vai ter, mas qual será a natureza da relação do PMDB com o PT no governo - desabafou um peemedebista que participou das negociações, mostrando como será difícil essa relação daqui para a frente.

A decisão de Dilma de restringir a nova lista, de ontem, a apenas três novos ministros teve como objetivo manter uma margem de manobra para negociação de novos cargos no primeiro escalão.

Avaliação feita pelo PMDB na madrugada era que um anúncio fragmentado dos ministros do partido enfraqueceria ainda mais a legenda no embate com a equipe de transição. A reunião na residência do presidente do Senado, José Sarney começou na noite de quinta-feira, e entrou pela madrugada.

Previdência, o que ninguém quer

Participaram dessa reunião Michel Temer , os líderes na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Edison Lobão, entre outros peemedebistas. O deputado Antonio Palocci (PT-SP), futuro chefe da Casa Civil, chegou a ser acionado.

Os peemedebistas consideram a proposta de quatro ministérios insuficiente. Também houve grande contrariedade com o oferecimento do Ministério da Previdência, uma pasta considera problemática e com grande potencial de desgaste político - que já foi até recusada por petistas, como o senador Aloizio Mercadante (SP).

- Eles estão oferecendo essas quatro pastas, mas não está nada apaziguado. Não adianta dizerem que está tudo acertado que não tem nada acertado. Tínhamos Comunicações, Integração Nacional e Saúde. Nos tiram isso e querem nos entubar Turismo e Previdência - disse um peemedebista. - O PT com 20 ministérios e é o PMDB que fica com a pecha de fisiológico? Estamos tentando avançar nesse quinto ministério. Mas ficou tudo para a semana que vem, ninguém aguenta mais esse estica e puxa. Tem uma briga louca de foice dentro do PT.

Os peemedebistas ainda desejam o comando de estatais para poder indicar lideranças que foram derrotadas nas eleições. É o caso do deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). O PMDB tenta a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) ou a Infraero. Também há pressão para que o senador Hélio Costa (PMDB-MG) fique com Furnas. Mas a equipe de transição demonstrou indiferença a esses pleitos do PMDB. Pelo menos por enquanto.