Título: Da cerveja ao aco, importacoes nao param de crescer no pais
Autor: Almeida,Cássia ; Ribeiro,Fabiana
Fonte: O Globo, 10/12/2010, Economia, p. 33

Investimentos e consumo de famílias são puxados por compras externas

O consumo das famílias e os investimentos feitos na economia, destaques do crescimento do PIB no último trimestre, foram influenciados pelas importações, que cresceram 7,4% no período. A produção nacional não está dando conta do apetite por consumo das famílias ¿ que apresenta resultados positivos há sete anos e subiu 5,9% no último trimestre frente ao mesmo período do ano passado.

As importações também ajudaram nos investimentos: no terceiro trimestre, a formação bruta de capital fixo (que inclui compra de máquinas e equipamentos, além da construção civil) avançou 3,9%. E, com isso, a taxa de investimento atinge 19,4% do PIB, acima do patamar de 17,9% do terceiro trimestre de 2009. E, segundo analistas, levando-se em conta as diferenças sazonais, trata-se de uma taxa de investimento recorde para a série do IBGE.

¿ A demanda interna continua aquecida, o varejo segue forte. E só confirma que a economia cresce acima do seu potencial, que seria de um PIB de 4,9% ¿ disse Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, para quem a elevação da taxa de investimento recupera os patamares perdidos da crise internacional de 2008. ¿ A despeito disso, a atual taxa ainda é insuficiente para garantir, por exemplo, um crescimento real sustentável de 5,5% ao ano.

Na comparação com o segundo trimestre, a produção nacional de bens de capital, onde estão as máquinas e equipamentos, teve queda. Porém, houve alta de 22% nas exportações e de 9% nas importações desses produtos, segundo Luiza Rodrigues, economista do Santander:

¿ Isso indica que pode ter havido redução de estoque.

Porém, na comparação com o mesmo trimestre de 2009, importou-se 76% mais bens de capital:

¿ No segundo trimestre, a alta fora de 36%.

No caso dos bens não duráveis ¿ alimentos, roupas, calçados e remédios, por exemplo ¿ a alta do consumo foi tão forte que subiram as importações, e as exportações caíram, indicando o desvio de vendas para o mercado externo. Além disso, a produção nacional desses bens também cresceu. Tudo isso para dar conta do consumo das famílias.

¿ A demanda está sendo suprida pelas importações, o que leva a uma deterioração mês a mês da conta corrente (trocas de recursos do Brasil com o exterior). Hoje a conta fecha por causa do fluxo de capital externo. Segurar esse movimento trará problemas nos preços ¿ disse Felipe Wajskop, economista do ABC Brasil.

O advogado Thiago Gomes, de 31 anos, é um dos que não dispensa produtos importados na mesa. Apreciador de cervejas e vinhos estrangeiros, ele é consumidor assíduo em importadoras do Rio:

¿ Gosto muito de cervejas belgas, alemãs e da Lituânia também. O brasileiro está de fato comprando mais produtos importados, e acredito que isso esteja acontecendo não apenas porque os preços estão melhores, com a desvalorização do dólar, como também porque o gosto do brasileiro está mais refinado.

Se por um lado os importados ajudam na cesta de compras do consumidor, por outro afetam os planos de muitas indústrias. A Usiminas decidiu, no mês passado, cancelar o projeto de uma nova usina em Santa do Paraíso (MG) com capacidade para produzir 5 milhões de toneladas de aço por ano, um investimento que seria de cerca de R$6 bilhões. A estimativa do Instituto Aço Brasil (IABr) é que o país feche 2010 com 5,9 milhões de toneladas importadas, volume 154% superior ao de 2009.