Título: País ainda está atrás de Bric e América Latina
Autor: Almeida,Cássia ; Ribeiro,Fabiana
Fonte: O Globo, 10/12/2010, Economia, p. 33

Média do crescimento brasileiro desde 2003 é inferior à de China e Índia.Também é menor que a da Argentina

BRASÍLIA e RIO. Se os oito anos de governo do presidente Lula permitiram à economia crescer bem mais do que na era Fernando Henrique Cardoso ¿ 4% contra 2,28% ¿, esse movimento ainda deixa o Brasil atrás de outros países. No grupo dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), atuais motores do crescimento mundial, o país é o último da fila. A média do crescimento chinês, por exemplo, foi de 10,95% nos últimos oito anos, enquanto a do indiano foi de 8,2%. Até mesmo a Rússia, cujo Produto Interno Bruto (PIB) despencou 7,9% por causa da crise mundial em 2009, teve média melhor: 4,8%. O Brasil também ficou abaixo da média da América Latina no período: 4,64%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), que já tem projeções para 2010.

Considerando as estimativas do FMI, entre 2003 e 2010, o Brasil fica à frente apenas do México, que cresceu 2,1% nesse período, se consideradas as principais economias da América Latina. O país empata com Chile e Paraguai, que também fecharão o período 2003-2010 com crescimento médio de 4%. A Argentina, por exemplo, registrará taxa de 7,4%; o Peru, de 6,4%; e a Venezuela, de 4,6%.

Segundo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o Brasil perde quando comparado com China e Índia porque o crescimento sustentado dessas economias ocorre há décadas. Elas derrotaram o monstro da inflação e conseguiram estabilidade. Além disso, são países com população muito grande e que precisam de economias fortes:

¿ Na China, o crescimento tem de ser alto. O mínimo aceitável é de 8%. Qualquer valor abaixo disso é considerado recessão ¿ afirma Agostini. ¿ Já a Rússia, embora tenha crescido mais do que o Brasil, ainda tem crescimento de pior qualidade.

Segundo o diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carlos Langoni, embora a Argentina tenha crescido, na média, mais do que o Brasil, esse movimento não é sustentado. O país tem baixo nível de investimento e é fortemente dependente da venda de commodities:

¿ O crescimento duradouro ainda é raro. Já ocorre no Chile e está começando em lugares como o Brasil e o Peru.

Para Carlos Mussi, economista da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), os países da região que se saíram melhor foram os que souberam aproveitar a tranquilidade nos mercados para atrair investimentos, diversificar exportações e crescer. E, se o Brasil conseguiu avançar no governo Lula, isso também se deveu aos esforços da era FH, destacou Agostini:

¿ São dois momentos. É que nem Maradona e Pelé.