Título: Oito anos de altos e baixos
Autor: Duarte, Patrícia; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 09/12/2010, Economia, p. 27

Apesar de críticas, cortes de juros na gestão Meirelles foram mais numerosos

BRASÍLIA. Em oito anos à frente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles passou por muitos altos e baixos. Foi tratado como sinônimo de juros estratosféricos e inimigo do setor produtivo. Mas o balanço de sua gestão mostra que, desde janeiro de 2003, o BC mais reduziu a Selic do que elevou: foram 18 altas contra 32 cortes, que em julho de 2009 levaram a taxa básica ao seu menor patamar histórico: 8,75% anuais.

Ao ser escolhido pelo presidente Lula, causou indignação no PT. Afinal, era filiado ao PSDB e tinha sido, em 2002, o deputado federal mais bem votado de Goiás, seu estado natal. Abriu mão do seu mandato e de ser tucano.

Em março de 2003, o então ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu engrossou o coro de críticas, durante seminário fechado com militantes do PT:

"Se não demos um cavalo de pau no país, demos um cavalo de pau na economia, porque com juro de 26,5% e superávit (primário) de 4,25% (do PIB), com contingenciamento de R$14 bilhões, esse governo está desestimulando a atividade econômica".

Naquele momento, a Selic estava em 26,50% ao ano, maior patamar da era Lula. Meirelles, assim que assumiu o BC, em janeiro de 2003, elevou a taxa básica de juros para conter o processo inflacionário.

Na maior parte do primeiro mandato de Lula (2003 a 2006), Meirelles teve como interlocutor o então ministro da Fazenda Antonio Palocci, que tinha acesso total ao presidente Lula. Neste período, uma denúncia de suspeita de sonegação fiscal - da qual foi absolvido - recaiu sobre ele e Meirelles foi alçado à categoria de ministro para ter foro privilegiado. Com a queda de Palocci, em março de 2006, Meirelles teve de lidar diretamente com Lula e ganhou sua confiança. Mas ganhou também um "inimigo": o ministro Guido Mantega (Fazenda), que até hoje entra em colisão com o BC.

No segundo mandato do presidente Lula (2007 a 2010), uma das dificuldades vividas por Meirelles ocorreu quando o então diretor de Política Monetária, Mário Torós, abriu, numa entrevista em novembro de 2009, os bastidores do BC na crise internacional. Ele contou que o país enfrentou uma corrida bancária e que instituições pequenas e médias quase quebraram.

No fim de 2009, Meirelles filiou-se ao PMDB, de olho no governo de Goiás. Depois buscou a vice-presidência na chapa da então candidata Dilma Rousseff. Sem apoio do partido, desistiu. Em março de 2010, fez suspense por vários dias e causou desconforto. Naquele mês, o BC ainda contrariou as expectativas do mercado ao não elevar a Selic, apesar dos sinais de inflação. Os juros só subiram de 8,75% para 9,5% em abril. (Patrícia Duarte)