Título: Puxada por alimentos, inflação sobe 0,83%, maior alta desde abril de 2005
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 09/12/2010, Economia, p. 28

SOB PRESSÃO: Com demanda aquecida, serviços avançam 7,4% em 12 meses

Carne aumenta mais 10% e responde por um terço do IPCA em novembro

De novo, a alimentação foi a principal responsável pela alta da inflação em novembro. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo IBGE, subiu para 0,83%, depois de registrar 0,75% em outubro. Foi o maior percentual desde abril de 2005 do índice que serve de base para o sistema de metas de inflação do governo. No ano, o IPCA acumula alta de 5,25%, bem acima do centro da meta fixada para este ano de 4,5%. Em 12 meses, está em 5,63%. Somente a alta de 2,22% do grupo alimentação no mês respondeu por 61% de todo o índice.

- Houve alta generalizada nos alimentos, no feijão, açúcar, óleo de soja e, principalmente, na carne. Estamos na entressafra, e a estiagem ainda piora a situação. Como o gado está confinado, sem pasto, há o custo da ração, à base de milho e soja, que está subindo também. Os preços baixos de 2007 também levaram os pecuaristas a abater matrizes, diminuindo o rebanho - explicou Eulina Nunes, coordenadora do Sistema de Índice de Preços do IBGE.

A carne subiu 10,67% em novembro, o que representou 30% do IPCA. No ano, também foi a principal influência para os 5,25% captados pelo IBGE.

TV e informática têm queda de preços com real forte

Mesmo com a maior taxa em cinco anos, a variação de 0,83% registrada em novembro ficou abaixo da expectativas dos analistas, que projetavam alta de 0,87% no mês passado.

- Houve queda de preços em TV, som e informática de 2,43%, em artigos de residência (0,12%) e eletrodomésticos (0,92%), o que está ligado à valorização do real - afirmou Fábio Romão, economista da LCA Consultores.

Depois da alimentação, os serviços foram outro grupo de preços que puxou para cima a inflação. Manicure, cabeleireiro, empregada doméstica, serviços de costura, entre outros, subiram mais no mês passado. Para Romão, o reajuste próximo de 6% do salário mínimo foi a principal influência para esses reajustes:

- Os preços dos serviços fecharam 2009 em 6,4%, agora estão em 7,4% (nos últimos 12 meses). São setores que respondem com defasagem aos movimentos da atividade econômica. Esses preços maiores refletem o forte aquecimento do início do ano.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, essa alta persistente que se verifica nos últimos quatro meses preocupa:

- É um grande problema indicando a persistência da pressão de demanda.

Entre as pressões no ano até novembro, vários serviços aparecem entre os 39 itens que mais influenciaram o IPCA. Somente esse grupo de 39 produtos e serviços respondeu por 90% da inflação no ano. O IBGE acompanha mais de 300 itens mensalmente.

- Além dos serviços pessoais, subiram mão de obra para pequenos reparos, médico, dentista, hotel. Em geral, isso indica que há renda para fazer frente aos reajustes. As altas nos custos conseguem ser repassadas mais facilmente - afirmou Eulina, do IBGE.

Analistas preveem alta de 0,55% em dezembro

Em dezembro, o indicador deve ficar menor. A previsão dos analistas para o IPCA está em 0,55%, acreditando que os preços dos alimentos vão subir menos e alguns poderão até ficar mais baratos. E, para a taxa fechada no ano, confirmadas as previsões para dezembro, as estimativas são de uma inflação de 5,80%. Em 2011, as projeções para o IPCA já estão acima da meta de 4,5%, a mesma de 2010. Romão, da LCA, prevê 4,70%

- Haverá pressão menor dos alimentos e nos serviços, já que o salário mínimo não deve ter aumento real em 2011.