Título: Ritmo mais moderado do PIB é salutar
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Fonte: O Globo, 11/12/2010, Opiniao, p. 6

A economia brasileira reduziu seu ritmo de crescimento no terceiro trimestre, segundo levantamento preliminar do IBGE. Esse arrefecimento já era esperado, até porque nos trimestres anteriores a base de comparação ainda estava muito influenciada pelo impacto da crise financeira de 2008/2009 ¿ a propósito, a revisão do PIB do ano passado, pelo próprio IBGE, mostra que o estrago causado por ela no país foi mais significativo, com retração de 0,6%, em vez de 0,2%; não se tratou mesmo de uma ¿marolinha¿.

O que mais chama a atenção nos dados preliminares do PIB do terceiro trimestre foi a perda de dinamismo da indústria de transformação, que se retraiu 1,6% em relação aos três meses anteriores. Isso explica parte da preocupação do Banco Central em não elevar agora as taxas básicas de juros, pois esta perda de dinamismo não é explicada por dificuldades no crédito, e talvez já seja um reflexo da falta de condições do setor para concorrer com produtos importados, pois, no período, o consumo das famílias cresceu 1,6%. Uma valorização mais acentuada do real poderia agravar o problema.

Por outro lado, os investimentos continuaram a se expandir fortemente, refletindo-se, por exemplo, na importação de máquinas e equipamentos. É este investimento que ampliará a capacidade de produção do país, evitando que a evolução da demanda provoque mais inflação.

A acomodação no ritmo de crescimento da economia brasileira em um patamar é salutar, porque não se pode dar um passo maior que as pernas. Muitos investimentos levam tempo para maturar, e, enquanto isso, se mantido um ritmo de 7% ao ano ou mais de crescimento, o país se veria diante de gargalos intransponíveis na infraestrutura, que frustrariam todo o esforço feito para se retomar a trajetória de expansão.

As projeções indicam que o PIB de 2010 registrará um aumento de, no mínimo, 7,4%, podendo chegar a 8%, dependendo do desempenho do quarto trimestre, que costuma ser favorecido pelas vendas de fim de ano.

Daqui para a frente, os parâmetros para avaliação da economia devem ser outros, pois o espaço perdido para a crise de 2008/2009 já foi completamente recuperado. O Brasil não conseguirá crescer tanto sem se ressentir da falta de mão de obra qualificada e de uma infraestrutura adequada, além de pressionar a inflação e também provocar desequilíbrios perigosos nas contas externas.

Para que o crescimento se sustente, será fundamental que a taxa de investimento continue evoluindo bem mais que o consumo, e, nesse sentido, o papel que os gastos do setor público ¿ como maior agente econômico ¿ desempenharão é fundamental. Sem contenção das despesas de custeio, o setor público não investirá na dimensão necessária. E alimentará uma pressão de demanda que não dará outra opção ao Banco Central que não uma elevação das taxas de juros (o que pode ter impacto negativo sobre os investimentos privados).

A maioria dos analistas acredita que a economia brasileira será mais puxada pelos investimentos do que pelo consumo em 2011. Será muito bom se isso se concretizar.