Título: Prefeito tucano é assasinado a tiros em Sao Paulo
Autor: Falcão, Jaqueline
Fonte: O Globo, 11/12/2010, O Pais, p. 15

Walderi Braz Paschoalin chegava à rádio onde apresentava programa. Polícia prendeu quatro para averiguação

SÃO PAULO. O prefeito de Jandira, Walderi Braz Paschoalin (PSDB), de 62 anos, foi assassinado a tiros, e o motorista dele ficou gravemente ferido, ontem de manhã, quando chegavam à sede da Rádio Astral FM, localizada na cidade, na Região Metropolitana de São Paulo. Os dois assassinos estavam armados com um fuzil e uma pistola 9 milímetros e dispararam cerca de 15 tiros contra o Fiesta dirigido pelo segurança Wellington Martins, que está internado em estado gravíssimo no Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde foi operado.

O prefeito apresentava o programa ¿Bom Dia Prefeito¿ às sextas-feiras. A polícia prendeu quatro pessoas para averiguação. Duas estavam com sinais de pólvora nas mãos. O Ministério Público de São Paulo investiga o envolvimento do prefeito morto num caso de mensalão, no qual Paschoalin era acusado de pagar propinas a cinco vereadores.

Polícia acredita que carro seria incendiado

Dois suspeitos têm passagem pela polícia por tráfico de drogas. Eles foram detidos em um Polo, a 50 metros de um Focus prata, usado no crime e deixado a dois quilômetros da rádio. Dois celulares foram apreendidos. Segundo o capitão Henrique Júnior, da Polícia Militar de Jandira, o Focus é roubado e foi achado com o motor ligado e portas abertas; dentro, havia uma garrafa com combustível. Os bancos do automóvel estavam encharcados com gasolina. A polícia acredita que os criminosos atiraram contra o carro, na tentativa de incendiá-lo.

Segundo o PM, o prefeito foi atingido por tiros disparados de duas armas: uma pistola 9 milímetros e um fuzil AR 15 ou AR 16. O crime ocorreu pouco antes de 8h. Um locutor da rádio falava do prefeito quando foram ouvidos fortes estampidos. Os tiros foram transmitidos ao vivo pela rádio. O locutor Fernando Silva achou que eram fogos de artifício para ¿comemorar¿ a chegada do prefeito:

¿ Escutamos um barulho muito forte, ainda falei para o meu colega: ¿Olha só o prefeito está chegando, estão até soltando fogos¿. Mas, em seguida, a recepcionista entrou correndo, dizendo que atiraram no prefeito.

O diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo, delegado Marcos Carneiro, disse que a hipótese mais forte é de crime por encomenda. Nada foi roubado.

¿ Eles chegaram atirando com arma de grosso calibre. Uma delas foi fuzil. O plano incluía ainda queimar o veículo utilizado no crime ¿ disse.

A única testemunha do crime, uma menor, contou à polícia que, quando o prefeito chegou à sede da rádio, dois criminosos com toucas ninja desceram do carro atirando.

¿ Mais pessoas poderiam estar dando suporte aos criminosos. Mas o que chama a atenção é o fato do crime acontecer quando o prefeito não estava usando o carro blindado ¿ disse o delegado.

Segundo o vereador Henrique Francisco de Alexandria (PSDB), líder do governo na Câmara Municipal, o prefeito havia passado a andar com carro blindado há quatro meses, depois que a filha sofreu uma tentativa de sequestro. Alexandria disse que Paschoalin recebeu ameaças, mas não as levava a sério:

¿ Eu recomendava a ele que mandasse alguém na frente antes de chegar na rádio. Hoje, eu iria com ele participar do programa ¿ afirmou.

O vereador disse que ele próprio já sofreu duas tentativas de homicídio. Após a morte do prefeito, pensa em deixar a cidade.

Vereadores teriam recebido mensalão de R$200 mil

O Ministério Público de São Paulo investiga a participação de Paschoalin num caso de mensalão, no qual cinco vereadores são acusados de receber dinheiro do prefeito para aprovarem projetos na Câmara. Segundo o promotor Roberto Porto, que investiga o caso, os cinco vereadores teriam recebido R$200 mil para aprovar projetos de interesse do prefeito.

Foi pedida pelo Ministério Público a quebra de sigilo telefônico dos vereadores. O promotor suspeita que o assassinato do prefeito tenha ligações com a investigação sobre os pagamentos de propina.

Em nota, o PSDB lamentou a morte do prefeito, que estava em seu terceiro mandato, e afirmou que ele era um exemplo de liderança na região. O prefeito chegou a ser cassado em 2008, pois as contas de sua gestão anterior tinham sido reprovadas. Porém, recorreu e assumiu o cargo pela terceira vez. O governador Alberto Goldman (PSDB) informou que irá ao velório. Paschoalin deixa a mulher, três filhos e quatro netos. Seu corpo será velado no ginásio municipal da cidade.

Paschoalin chegou a ter o maior salário do país para um prefeito e foi investigado pelo sumiço de cem cheques da prefeitura de Jandira. Os cheques foram feitos em nome de várias pessoas, com assinatura falsa; todos sacados de uma só vez. Sua mulher também foi investigada em função de despesas consideradas irregulares pelo Tribunal de Contas.

Ex-vereador e suplente já foram assassinados

Em outubro passado, a filha de Paschoalin foi vítima de tentativa de sequestro. No fim do ano passado, a casa dele foi invadida e roubada.

Jandira tem 110 mil habitantes e fica a 32 quilômetros da capital paulista. Um ex-vereador da cidade e um suplente de vereador já foram assassinados.