Título: Cidades médias na dianteira
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 11/12/2010, Economia, p. 31

Municípios com população de 100 mil a 500 mil foram os que mais cresceram

Aeconomia brasileira se rende ao potencial das cidades médias, que têm de 100 mil a 500 mil habitantes. Na última década, a participação no Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) desses municípios passou de 25,5%, em 1999, para 28,0% em 2008. Foi o maior avanço entre os diferentes portes de município. Desse mapa, fazem parte cidades como as fluminenses Campos de Goytacazes e Macaé. Já as grandes cidades, com mais de 500 mil habitantes, perderam espaço na geração de renda do país, encolhendo a participação de 44,7% para 41,8% no período.

Ainda assim, apenas seis municípios ¿ São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte e Manaus ¿ respondem por quase 25% do PIB do Brasil. Esse é um dos retratos revelados na pesquisa do IBGE que calcula o PIB dos municípios, incluindo tudo o que se produz de bens e serviços nas 5.564 cidades do país.

¿ As chamadas cidades médias apresentam um crescimento sustentado e contínuo nesses dez anos. E esse movimento ajuda a diminuir a alta concentração da geração de renda do país, cujas capitais respondem por 33,9% do PIB ¿ disse Sheila Zani, coordenadora do levantamento do IBGE, acrescentando que, no outro extremo, a renda gerada por 1.313 municípios somam apenas 1% do total da riqueza nacional.

Segundo José Cezar Castanhar, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), as cidades médias conseguem atrair novos investimentos ao criar estímulos fiscais, ter custos menores e imóveis mais baratos.

¿ Os dados confirmam que o eixo da economia sai dos grandes centros para ocupar as cidades que não são tão pequenas e ainda têm infraestrutura. Ajuda o fato de o país ter empreendedores em todas as regiões ¿ disse Castanhar, ressaltando que o mercado interno em expansão também estimula o crescimento dessas cidades.

As maiores rendas per capita (o PIB local dividido pelo tamanho da população), contudo, estão em cidades com baixa densidade demográfica. Isso porque, disse Sheila, ¿nem toda a renda gerada é apropriada pela população¿. É o caso da pequena São Francisco do Conde, na Bahia, que abriga a segunda maior refinaria em capacidade instalada de refino do país, a Landulpho Alves. O PIB per capita da cidade é de R$288.370,81 ¿ bem acima da média nacional de R$15.989,75. E ainda Porto Real (R$203.561,86), no Rio, com a indústria automobilística.

¿ Nem toda a renda fica no município ¿ enfatizou ela.

Rio e São Paulo perdem espaço

Apesar da expansão das cidades médias, os municípios com maior peso na economia brasileira são São Paulo (11,8%), Rio de Janeiro (5,1%), Brasília (3,9%), Curitiba (1,4%), Belo Horizonte (1,4%) e Manaus (1,3%) ¿ juntas, têm quase um quarto do PIB do país. Mas essa concentração já foi maior. Em 1999, só Rio e São Paulo respondiam por quase 25% da riqueza nacional.

No ano passado, os dois principais motores da economia brasileira foram as cidades que mais perderam espaço no PIB. Em 2007, respondiam, respectivamente, por 5,3% e 12,1% de toda a geração de renda no país.

Para Sheila, do IBGE, o Rio de Janeiro perde, especialmente, para seus vinhos do Norte Fluminense ¿ que baseiam a sua economia no petróleo. Já São Paulo sentiu os efeitos do pior desempenho do setor financeiro em 2008, a despeito do volume crescente de crédito.

¿ E 2008 foi um ano especial para as commodities. Mas a agricultura de São Paulo se concentra em laranja e cana-de-açúcar, que apresentaram queda de preços em 2008. Outra atividade que sofreu foi a de refino de petróleo. Com o preço do barril em alta, a atividade ficou mais cara.

Os números do IBGE mostraram ainda que 1.832 municípios do país tinham mais de um terço a sua economia dependente da administração pública. Em algumas, como Uiramutã (RR), Poço Dantas (PB) e Santo Antônio dos Milagres (PI), a atividade do governo responde por mais de 70% da geração de renda da cidade.