Título: Dilma reage com calma a vazamentos
Autor: Mora, Miguel
Fonte: O Globo, 11/12/2010, O Mundo, p. 42

Embaixador diz que EUA não têm informações sobre acusações de assalto a cofre

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. A presidente eleita, Dilma Rousseff, evitou comentar ontem o conteúdo dos novos documentos da diplomacia americana vazados pelo site WikiLeaks e que falam sobre sua participação na luta armada durante a ditadura. De acordo com interlocutores do governo de transição, Dilma leu o noticiário sobre o assunto e ¿demonstrou tranquilidade¿.

Segundo reportagem publicada ontem pelo GLOBO, o ex-embaixador americano John Danilovich descreveu, ao Departamento de Estado, a atuação de Dilma, que tomava posse como ministra da Casa Civil. ¿Junto a vários grupos clandestinos, Dilma Rousseff organizou três assaltos a banco e co-fundou a Vanguarda Armada Revolucionária de Palmares. Em 1969, ela planejou o lendário roubo conhecido como `Roubo do Cofre do Adhemar¿¿, diz o telegrama. Após se tornar ministra, ela passou a ser acompanhada de perto pelo governo americano.

O telegrama de 22 de junho de 2005 coloca na ficha de Dilma essas quatro ações (incluindo o roubo do cofre do ex-governador Adhemar de Barros, de onde teriam sido levados US$2,5 milhões), o que a presidente eleita sempre negou ter feito. No processo do Superior Tribunal Militar (STM), de 1970, Dilma é acusada de ¿assessorar¿ assaltos, mas não de participar ou planejar as ações.

Amorim minimiza material, mas defende Assange

Ontem, o atual embaixador americano em Brasília, Thomas Shannon, não quis comentar os vazamentos, mas ressaltou que os EUA ¿não têm informação alguma que confirme essas alegações ou acusações¿. O embaixador ressaltou que a relação com a presidente eleita é positiva e que ela já viajou com frequência aos EUA quado era ministra ¿ o que confirmaria a não existência de informações contra ela. Shannon não revelou se o Departamento de Estado entraria em contato com Dilma para esclarecer a situação.

¿ É importante entender que ela falou recentemente com o presidente (Barack) Obama, e ele a convidou a visitar os EUA. Acho que nesse sentido estamos muito bem ¿ disse.

Seguindo o exemplo do presidente Lula, o chanceler Celso Amorim defendeu a divulgação de informações sigilosas da diplomacia americana e condenou a ¿perseguição¿ ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange. Para ele, o conteúdo do material não é ¿top secret¿ e causa moderado interesse mais pelo conhecimento das interpretações americanas e pela pitada de ¿fofoca¿.

¿ Não há dúvida de que é perseguição (a prisão de Assange). Não sei o que o rapaz fez. Mas, evidentemente, tudo isso foi desencavado porque foi inconveniente. Sou a favor da total liberdade de expressão. Se alguém feriu a lei de segurança isso é problema interno dos EUA. Mas a divulgação não pode ser cerceada ¿ disse Amorim.

O chanceler também minimizou o conteúdo dos vazamentos, ao argumentar que as revelações não têm o poder de abalar as relações bilaterais.

¿ A maioria das coisas são interpretação. As poucas coisas que eu sei e que estão ali contêm erros factuais. A maioria é irrelevante: ou eu já sabia ou tem valor de fofoca. Não tem nenhum top secret.