Título: Brasília, BH e Curitiba, as capitais com mais casos
Autor: Tinoco, Dandara
Fonte: O Globo, 12/12/2010, O País, p. 15

Escolas públicas e particulares criam programas para saber lidar com a violência entre os alunos

BELO HORIZONTE e CURITIBA. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2009 (Pense), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que Brasília, Belo Horizonte e Curitiba são as capitais brasileiras com mais casos de bullying: 35,6%, 35,3% e 35,2%, respectivamente.

As estatísticas refletem histórias como a da mineira Z. Rotulada de patricinha, a menina virou motivo de piadas de colegas, que chegaram a agredi-la. Sua amiga W. também era hostilizada por colegas, por se vestir como roqueira.

Para lidar com casos de violência, o colégio particular Santo Agostinho, em Nova Lima, na Região Metropolitana de BH, criou, em 2008, um grupo que trata do bullying. Nos últimos dois anos, o Núcleo de Referência da Cultura da Paz da escola ampliou seu campo de atuação, ao promover atividades culturais voltadas a estimular o talento de cada jovem.

- No início, eles ficam um pouco acanhados, mas depois se soltam e ganhamos sua confiança para agir - conta a coordenadora do projeto, Kely Cristina de Moura.

Para as 240 unidades de ensino geridas pela prefeitura de Belo Horizonte, está prestes a ser criado um novo regimento escolar, que terá capítulos dedicados ao problema. Atualmente, a identificação de casos e a mediação dos conflitos está a cargo da coordenação pedagógica e da direção das escolas, mas a ideia é ampliar a responsabilidade de todos os envolvidos e tornar permanente a capacitação de funcionários.

- Quando os pais fizerem a matrícula do aluno, a primeira coisa que receberão é uma cópia do regimento escolar para ler e tomar conhecimento das responsabilidades de cada um - conta Ismair Sérgio Cláudio, gerente de projetos especiais da Secretaria Municipal de Educação.

Em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, o Colégio Estadual Guatupê faz desde o início do ano uma campanha de conscientização contra o bullying. Uma pesquisa realizada com 200 alunos da escola mostrou que 55,5% já foram vítimas, sendo que 36,5% dos casos foram de agressões verbais, e 19%, físicas.

Aluno do colégio, Y., de 11 anos, sofre com agressões verbais devido ao sobrepeso.

- Já pensei em revidar, mas é pior. Então, fico quieto - diz.

Para a doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Araci Asinelli-Luz, um dos principais fatores para que cidades como Curitiba estejam na lista com mais vítimas é o social. A professora realizou um curso com cerca de 80 professores de São José dos Pinhais durante quatro meses. Todos eles apontaram a discriminação como a principal causa do bullying.

- Antes, o bullying era entendido como brincadeira de criança, e não tínhamos ideia do dano desses atos.

Em outubro, a Câmara Municipal de Curitiba aprovou a Lei número 13.632/2010, de autoria dos vereadores Pedro Paulo (PT) e Mario Celso (PSB), que implementa uma série de ações para identificar e combater o problema.